Este artigo começa como uma história sobre a importância vital das estradas: Como muitas crianças da Guiné-Bissau, Daisy mora um pouco longe da estrada principal. O hospital mais próximo fica a 10 km de distância. Uma vez a Fatinha, sua mãe, teve que a levar numa motorizada de urgência para o hospital após ela ter sido mordida por uma cobra a noite. A história de Daisy— e a vida dela— podia ter terminado tragicamente mas, ao contrário, teve um final feliz: ela recebeu tratamentos da mordedura da cobra venenosa, e tudo graças a uma estrada recentemente reabilitada.
A Guiné-Bissau é um dos países mais pobres e mais frágeis do mundo, com uma população de apenas 1,85 milhões de habitantes. Embora não longe de Bissau, a capital, a maior parte das estradas na região de Biombo, neste caso Pefine onde moram a Daisy e a mãe, são de terra batida. Mas a sua reparação foi uma das coisas que as populações locais optaram fazer ao abrigo de um projeto conhecido pelo seu acrónimo em Português, PDDC, ou Projeto de Desenvolvimento Dirigido pela Comunidade Rural na Guiné-Bissau, que colabora com as comunidades com vista a reconstruir as infraestruturas, em função das suas necessidades.
“Tomam decisões democráticas”, diz Alfa Djalo, o gestor do projeto. “As comunidades, com até mil habitantes cada, têm um orçamento de 65 milhões de francos CFA para decidir sobre o que consideram importante reconstruir. Podem escolher uma escola, uma estrada, uma nascente ou até mesmo um campo de arroz”.
E o resultado é que as mulheres têm mais acesso a fontes de água potável, bem como a estradas que as ligam aos mercados, o que as ajuda a vender melhor os seus produtos a um preço mais alto. As doenças relacionadas com a água baixaram consideravelmente. E as comunidades cooperam e cuidam bem de toda as novas infraestruturas.
Vender no Mercado
A história continua com o impacto que as estradas têm no pequeno comércio: Enquanto Zanda espera por uma boleia para uma viagem de 18Km até ao Mercado do Caracol para vender mangas apanhadas das árvores da sua família, ela recorda os tempos em que levava só metade do que hoje transporta nas suas mãos. Atualmente, ela faz até 8 mil francos CFA por dia, mais do dobro daquilo que antes conseguia. Isto vai permitir que ela possa pagar a escola e vestuário dos filhos e comprar as colchas usadas localmente durante cerimónias tradicionais.
Djonsinho Ca também recorda como era difícil o acesso à esta parte do país antes da estrada ter sido reparada, mesmo que se tivesse um veículo. “Apenas os camiões de 20 toneladas podiam chegar ao lugar onde estamos hoje” conta-me ele em Pefine de Areia, a uns escassos 25 km de Bissau. “Esta estrada estava cheia de buracos e ficava pior durante a estação das chuvas, altura em que as emergências médicas punham em perigo as nossas vidas”.
"Dantes, nós não podíamos vender as nossas mangas e as castanhas de caju”, acrescenta, “mas hoje em dia, veículos vêm comprar-nos caju a bons preços ”. Está contente por ter a estrada mas, a próxima prioridade é um centro de saúde: “Temos espaço que a Igreja Católica nos disponibilizou, mas ainda não temos pessoal nem equipamento”.
As escolas estão tão lotadas que operam em três turnos diários.
Alfa Umaru Jalo / Banco Mundial