A pedreira Maria de Jesus Severino, 35 anos, e a professora aposentada Maria de Jesus Viana, 50, não se conhecem, mas apresentam muito em comum. Além de terem o mesmo nome, elas sentiram na pele as transformações recentes do lugar onde moram: Lagoas do Norte, em Teresina (Piauí).
A primeira comemorou ao receber, em maio, o diploma de um curso profissionalizante de pedreiro. A oportunidade foi oferecida aos antigos oleiros locais, que faziam tijolos com a argila tirada das lagoas – e intensificavam o processo de degradação ambiental.
“Eu era dona de casa e carregava tijolo nas olarias, mas agora quero fazer reboco, teto, encanamento e trabalhar em uma empresa de construção”, disse ela, elegantemente sentada em uma das poltronas do Teatro do Boi, onde ocorreu a formatura.
Já a professora se mudou há dois anos e meio para um conjunto habitacional longe de áreas de enchente, com saneamento básico, registro de água e ligação regular (e grátis) de luz. “Minha casa sempre foi de tijolo, mas vi gente vivendo em construções de taipa totalmente indignas”, lembra. “Muitos vizinhos estavam tão mal que vieram para cá antes de a área ter calçamento.”
Parceria contínua
A construção de novas áreas habitacionais, a reabilitação do Teatro do Boi e a recolocação profissional dos oleiros se tornaram possíveis por meio de um projeto envolvendo o Banco Mundial, a prefeitura de Teresina e o governo federal.
Essa parceria, que já dura quase cinco anos, ganhará continuidade em 2014. O projeto de financiamento adicional (serão até US$ 120 milhões) começará a ser preparado em breve, segundo a gerente da iniciativa, Lizmara Kirchner, do Banco Mundial.
“As obras da primeira fase serão concluídas em dezembro, e há um mês e meio foi inaugurada mais uma seção do parque de Lagoas do Norte”, conta ela. “Na segunda fase, a ideia é tirar mais gente das áreas de risco de enchentes, continuar os trabalhos de drenagem e saneamento, melhorar algumas pistas e proporcionar áreas adicionais de lazer para toda a região.”