REPORTAGEM

Teresina mostra o que a urbanização de uma área pobre pode fazer por toda a cidade

16 de outubro de 2013

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Maria de Jesus Viana hoje vive longe de áreas de enchente, com saneamento básico, registro de água e ligação regular de luz.

Mariana Ceratti / Banco Mundial

Destaques
  • Recuperação de Lagoas do Norte, uma das áreas mais pobres de Teresina, deu melhores condições de moradia à população e novas chances profissionais aos antigos oleiros.
  • Projeto ainda permitiu à prefeitura criar plano de mobilidade para a capital piauiense.
  • Trabalho deve ganhar novo fôlego em 2014 com projeto de financiamento adicional.

A pedreira Maria de Jesus Severino, 35 anos, e a professora aposentada Maria de Jesus Viana, 50, não se conhecem, mas apresentam muito em comum. Além de terem o mesmo nome, elas sentiram na pele as transformações recentes do lugar onde moram: Lagoas do Norte, em Teresina (Piauí).

A primeira comemorou ao receber, em maio, o diploma de um curso profissionalizante de pedreiro. A oportunidade foi oferecida aos antigos oleiros locais, que faziam tijolos com a argila tirada das lagoas – e intensificavam o processo de degradação ambiental.

“Eu era dona de casa e carregava tijolo nas olarias, mas agora quero fazer reboco, teto, encanamento e trabalhar em uma empresa de construção”, disse ela, elegantemente sentada em uma das poltronas do Teatro do Boi, onde ocorreu a formatura.

Já a professora se mudou há dois anos e meio para um conjunto habitacional longe de áreas de enchente, com saneamento básico, registro de água e ligação regular (e grátis) de luz. “Minha casa sempre foi de tijolo, mas vi gente vivendo em construções de taipa totalmente indignas”, lembra. “Muitos vizinhos estavam tão mal que vieram para cá antes de a área ter calçamento.”

Parceria contínua

A construção de novas áreas habitacionais, a reabilitação do Teatro do Boi e a recolocação profissional dos oleiros se tornaram possíveis por meio de um projeto envolvendo o Banco Mundial, a prefeitura de Teresina e o governo federal.

Essa parceria, que já dura quase cinco anos, ganhará continuidade em 2014. O projeto de financiamento adicional (serão até US$ 120 milhões) começará a ser preparado em breve, segundo a gerente da iniciativa, Lizmara Kirchner, do Banco Mundial.

“As obras da primeira fase serão concluídas em dezembro, e há um mês e meio foi inaugurada mais uma seção do parque de Lagoas do Norte”, conta ela. “Na segunda fase, a ideia é tirar mais gente das áreas de risco de enchentes, continuar os trabalhos de drenagem e saneamento, melhorar algumas pistas e proporcionar áreas adicionais de lazer para toda a região.”


" Eu carregava tijolo nas olarias, mas agora quero fazer reboco, teto e encanamento e trabalhar em uma empresa de construção "

Maria de Jesus Severino

Pedreira

A primeira fase do projeto atuou em 325 dos 1.300 hectares que precisam ser recuperados, sempre com um comitê de moradores acompanhando as obras.  No total, 400 famílias foram retiradas de áreas de risco. Além disso, 253 famílias de oleiros receberam compensação financeira, aposentadoria ou cursos para recolocação profissional.

Melhorias gerais

“Tudo o que foi feito até agora deu mais cidadania à população, embora esse seja um processo ainda incompleto. Queremos consolidar a melhoria na qualidade de vida”, avalia o prefeito de Teresina, Firmino Filho. Para ele, o trabalho em Lagoas do Norte ainda permitiu à prefeitura estudar melhor a própria cidade e criar ações para outras áreas da administração.

“Geramos, por exemplo, um plano diretor de transportes com o qual conseguimos captar R$ 107 milhões para a melhoria do transporte coletivo e da mobilidade urbana”, continua. Isso tem impactos positivos não só sobre a população da área, mas sobre todos os teresinenses.

A área conhecida como Hiroshima – construída em terreno facilmente alagável – é tida como uma das prioridades para a próxima etapa. “Aqui é muito precário. Ano passado, choveu e a casa caiu em cima do meu neto”, lembra a dona de casa Carmen Maria de Sousa, 37 anos.

“Ganhei madeira para construir uma nova, mas mesmo essa já está perigando cair”, acrescenta ela, que sustenta o menino e mais oito filhos com os R$ 290 do Bolsa Família. Dos 100 mil moradores de Lagoas do Norte, 65% ganham por volta de US$ 1,5 ao dia.


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