REPORTAGEM

Em São Luís, rede de água e obras contra inundações levarão qualidade de vida a 45 bairros pobres

6 de junho de 2013

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Dos 240 mil moradores da região da Bacia do Bacanga, 90% recebem até dois salários mínimos por mês. Apenas 39% têm acesso à rede de esgoto.

Mariana Ceratti/Banco Mundial

DESTAQUES DO ARTIGO
  • Projeto financia obras de drenagem (que diminui os riscos de inundação) e expansão da rede de esgoto.
  • Além disso, a iniciativa dará uma alternativa de moradia a cerca de 600 famílias que hoje vivem em áreas de risco.
  • Famílias atendidas pelo projeto ainda participarão de atividades de educação ambiental e profissional.

A cada vez que as nuvens se avolumam sobre o céu de São Luís, o líder comunitário Carlos Magno e os vizinhos ficam em alerta. Para eles, chuva forte ainda é sinônimo de ruas e casas tomadas pela água. “No bairro do Coroado, onde moro, dá para andar de barco”, resume. 

Essa não é uma preocupação exclusiva dos habitantes do Coroado: afeta aproximadamente 240 mil pessoas de 45 bairros da região conhecida como Bacia do Bacanga. Trata-se de uma área plana e baixa, facilmente alagável e cheia de moradias informais.

Na região, estima-se que 90% das famílias recebam de 1 a 2 salários mínimos por mês. Apenas 39% das pessoas têm acesso à rede de esgoto. E ele não é tratado.

Recuperação complexa

Para melhorar a vida dos moradores, uma iniciativa do Banco Mundial, da prefeitura de São Luís e do governo federal está financiando obras de drenagem (que minimiza os riscos de inundações), bem como de expansão da rede de água e esgoto.

Com esse trabalho, a meta para os próximos anos é que 80% dos habitantes da Bacia do Bacanga tenham acesso à rede de esgoto – e que, por sua vez, 80% desse material seja tratado.

“Essa é a primeira vez que a prefeitura de São Luís trabalha integrando saneamento, melhorias urbanas e controle de risco de enchentes”, explica Emanuela Monteiro, especialista em desenvolvimento urbano no Banco Mundial.

“O trabalho tem uma série de desafios, tanto do ponto de vista de saneamento quanto do social”, acrescenta Gustavo Marques, secretário de Projetos Especiais da prefeitura de São Luís. “É impossível tirarmos todo mundo que está nessas áreas e fazer tudo de novo”.


" Conhecimento e verbas são fundamentais para revitalizar as áreas urbanas pobres do Brasil. São Luís está usando esses recursos para fazer um trabalho ao mesmo tempo difícil e inovador "
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Deborah Wetzel

Diretora do Banco Mundial no Brasil

Moradia legal

Possível (e essencial) é retirar aproximadamente 600 famílias que hoje vivem em zonas de risco de inundação, perto de igarapés e afluentes.

Elas terão pelo menos duas alternativas: a primeira é mudar para um dos conjuntos habitacionais construídos pelo programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal. Dos 2 mil apartamentos (com mais ou menos 50m2 cada) nesses conjuntos, 25% serão destinados às famílias atendidas pelo projeto.

A outra opção é receber uma indenização que lhes permitirá comprar uma casa nova.

A iniciativa também cuida da recuperação de áreas antes ocupadas por esgoto a céu aberto e moradias irregulares. No lugar disso, entram calçadões, praças (como a de esporte e cultura do Coroado, atualmente em obras) e centros culturais.

São mudanças bem-vindas para o líder comunitário João Flor. "As pessoas aqui são tão carentes de lazer que, quando o Canal do Coroado foi coberto, passaram a usar a cobertura de concreto como se fosse um calçadão", conta. "Muita gente abriu portas em suas casas para poder ter essa vista nova."

Educação ambiental

À parte as obras de infraestrutura, o programa inclui um plano de regularização fundiária, educação ambiental (atualmente em contratação) e de formação profissional para os moradores da região do Bacanga.

Apenas 0.5% dos moradores trabalham nas indústrias locais, mas esse número deve aumentar em breve: 2 mil pessoas já passaram por cursos de informática e construção civil, entre outros bastante requisitados pelos empregadores.

"Conhecimento e verbas são fundamentais para revitalizar as áreas urbanas pobres do Brasil”, diz a diretora do Banco Mundial para o Brasil, Deborah Wetzel. "São Luís está usando esses recursos para fazer um trabalho ao mesmo tempo difícil e inovador."


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