REPORTAGEM

No Brasil, lixo eletrônico pode gerar empregos verdes e desenvolvimento sustentável

4 de fevereiro de 2013


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Funcionária de uma empresa de reciclagem desmonta impressora: a produção de lixo eletrônico (e-waste) no Brasil deve aumentar para 8kg/habitante/ano em 2015. Atualmente, são gerados 6,5kg/habitante/ano.

Estre Ambiental/Divulgação.

DESTAQUES DO ARTIGO
  • Um estudo do Banco Mundial analisa os impactos ambientais, econômicos e de saúde causados pelo manejo inadequado do lixo eletrônico no Brasil.
  • O estudo foi feito depois de o governo brasileiro aprovar a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Um acordo ainda é necessário para garantir que a legislação saia do papel.
  • A procura por equipamentos eletrônicos é crescente no país e deve aumentar com a Copa de 2014 e outros grandes eventos.

Em 2012, os brasileiros entraram na lista dos 10 maiores compradores de tablets do mundo. Só no terceiro trimestre do ano, as vendas chegaram a 770 mil aparelhos, um aumento de 127% em relação ao mesmo período em 2011. A demanda por smartphones também está em alta: 4,2 milhões foram vendidos no país ao longo desses três meses, segundo a consultoria global IDC.

À medida que o consumo aumenta – em especial entre a nova classe média brasileira –, também cresce o risco de que os aparelhos sejam jogados fora inadequadamente ao ficarem obsoletos ou estragados.

“Esses equipamentos liberam resíduos tóxicos no ambiente, contaminando ar, água e solo”, explica Vanda Scartezini, uma das autoras de um estudo do Banco Mundial sobre o lixo eletrônico brasileiro. “Tais substâncias, como mercúrio e chumbo, também podem causar problemas de saúde em catadores e outras pessoas.”

O estudo, Wasting no Opportunity – The Case for Managing Brazil’s Electronic Waste (“Não joguemos a oportunidade fora – Evidências para um gerenciamento correto do lixo eletrônico brasileiro”, em uma tradução livre), faz mais do que analisar os riscos de impactos ambientais futuros. Também mostra o quanto o tema é, ao mesmo tempo, estratégico e delicado para a indústria nacional.  

Coleta e processamento

O assunto é relevante porque a produção de lixo eletrônico (e-waste) no Brasil deve aumentar para 8kg/habitante/ano em 2015, ante os atuais 6,5kg/habitante/ano. “Eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as explorações de petróleo na camada do pré-sal vão aumentar ainda mais a demanda por tudo que é eletrônico”, analisa Scartezini.

Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) mostra que o Brasil, ao lado de México e Senegal, já “gera mais lixo eletrônico per capita com computadores pessoais do que os outros países pesquisados”.

Além disso, o tema importa porque o gerenciamento correto do e-waste pode criar uma série de empregos verdes no país, segundo o estudo. “O Brasil deve se concentrar na coleta e no processamento inicial do lixo eletrônico, incluindo a separação e a desmontagem (...); essas atividades geram o melhor retorno sobre o investimento em termos de criação de empregos e impacto ambiental”, dizem os autores.

Encontrar maneiras sustentáveis de manejar esses resíduos também é necessário porque o Brasil tem a meta de fechar todos os lixões a céu aberto ainda nesta década. 


" Quase toda empresa e toda casa ainda têm um quartinho onde os eletrônicos velhos ficam juntando poeira; pouca gente sabe o que fazer com eles. "

Lucas Veloso

Gerente de manufatura reversa na Oxil, empresa paulista de reciclagem.

Negociações e obstáculos

O relatório, feito a pedido do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), foi lançado alguns meses depois de o governo federal aprovar a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Um acordo – atualmente em negociação – entre o Estado e a indústria de eletrônicos vai permitir a implementação da lei. E é aí que a questão se complica.

“Fica difícil definir um padrão único para a coleta e o processamento quando há tantos produtos gerando e-waste”, diz Ademir Brescansin, gerente de responsabilidade sócio-ambiental da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).

“Sem contar que as empresas de reciclagem ainda são poucas e mal espalhadas pelo Brasil, o que encarece o transporte desse lixo”, acrescenta.

Apesar dessa e de outras dificuldades, o governo e as empresas estabeleceram um prazo até 2014 para estabelecer um acordo, definir metas de reciclagem e começar definitivamente a agir. 

“Várias empresas globais já têm as próprias políticas de reciclagem, mas ainda há muitas outras indústrias a alcançar”, diz Lucas Veloso, gerente de manufatura reserva da Oxil, empresa de reciclagem em São Paulo. “Quase toda empresa e toda casa ainda têm um quartinho onde os eletrônicos velhos ficam juntando poeira; pouca gente sabe o que fazer com eles.”


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