REPORTAGEM

Brasil e África formam parceria estratégica para impulsionar a agricultura africana

4 de novembro de 2010


DESTAQUES DO ARTIGO
  • Especialistas brasileiros trabalharão em conjunto com técnicos africanos em projetos para desenvolver a agricultura
  • Projetos incluem recuperação de pastagens, manejo dos recursos naturais e a produção de energia limpa

BRASÍLIA, 2 de novembro de 2010 - Brasil e África estão plantando as sementes de uma parceria inovadora para impulsionar a agricultura do continente africano, adotando como modelo a revolução agrícola brasileira.

Concebida como uma ampla parceria continental apoiada pelo Banco Mundial e por outras entidades, a Feira de Inovação África-Brasil tem como objetivo estimular a modernização agrícola e o desenvolvimento na África, partindo da vasta experiência e conhecimento do Brasil que, conforme especialistas,  transformaram rapidamente este país sul-americano em um dos maiores celeiros de grãos do mundo.

Aclamado como um modelo de cooperação Sul-Sul, a Feira de Inovação reunirá pesquisadores brasileiros e africanos para trabalharem em conjunto em projetos que visem aperfeiçoar a agricultura na África, incluindo a recuperação de pastagens, o manejo dos recursos naturais e a produção de energia limpa, áreas nas quais o Brasil tem vantagem comprovada.

Os projetos são escolhidos de acordo com uma seleção competitiva das melhores propostas, em uma iniciativa que custará US$3 milhões durante os próximos três anos. Entre as 61 propostas apresentadas na primeira edição da Feira de Inovação, foram escolhidos para receber financiamento os seguintes seis projetos:

Projetos vencedores do África-Brasil 2010

  • Burkina Faso: Estudo da Ecologia e do Potencial Nutricional das Espécies Nativas de Árvores Alimentícias utilizadas pelas comunidades locais em Burkina Faso e na Amazônia brasileira: Uma estratégia de conservação e segurança alimentar no contexto das mudanças climáticas.
  • Quênia: Recuperação de pastagens degradadas usando pastoreios planejados e o impacto animal sobre a lavoura nas regiões áridas e semi-áridas do Quênia.
  • Quênia: Adaptação varietal do sorgo doce para produção de etanol.
  • Moçambique: Estímulo ao intercâmbio de conhecimento para gestão integrada de recursos naturais nas regiões agrícolas do Sul da África.
  • Tanzânia: Manejo de pestes e variedades no cultivo de algodão na Tanzânia.
  • Togo:Lixiviação e contaminação por pesticidas dos lençóis freáticos nas plantações de vegetais em áreas costeiras do Togo. 

“Este é um mecanismo fácil e eficiente que resultará em enormes benefícios não apenas para a África, mas também para o Brasil, que poderá aprender muito com a experiência do continente africano”, afirmou Pedro Arraes Pereira, Presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agrícola (Embrapa).

Líder mundial em agricultura
Arraes disse que na época em que foi a Embrapa foi criada, no início dos anos 1970, a agricultura brasileira se encontrava em estágio de desenvolvimento semelhante ao da África hoje.

Graças à Embrapa, o setor agrícola do Brasil alcançou o nível dos cinco maiores exportadores de grãos do mundo – EUA, Canadá, Austrália, Argentina e União Européia. Tendo iniciado como uma empresa estatal de porte relativamente modesto, hoje a Embrapa é a principal instituição de pesquisa tropical do mundo e é a principal responsável por haver transformado o Cerrado brasileiro, uma savana tropical,  em uma região de cultivo.

“O Brasil e a África compartilham muitos tipos de solo e condições climáticas semelhantes e tem forte afinidade histórica e cultural. A nossa experiência na área de agricultura tropical será muito útil para que o continente consiga reduzir essa disparidade com muito mais rapidez”, salientou Arraes.

O Banco Mundial destacou que a agricultura e a agroindústria oferecem um enorme potencial de transformação para a África, com um impacto na vida das pessoas muito maior do que o causado pela telefonia móvel.

"Se me perguntam qual será o próximo grande acontecimento na África, eu diria, sem dúvida alguma, a agricultura e a agroindústria", disse recentemente a Vice-Presidente do Banco Mundial para a África, Obiageli k. Ezekwesili, para um grupo de empresários reunidos em Washington D.C.

A agricultura representa cerca de 40% do PIB do continente e é fonte de renda de mais de 70% dos africanos.

Ao adotar uma abordagem continental em vez de nacional, a Feira de Inovação África-Brasil também está abrindo um novo caminho em termos do intercâmbio Sul-Sul.

“Por muitas razões, especialmente práticas, a maioria dessas parcerias tem sido estabelecida até agora de modo individual entre os países. Muitos resultados podem e já foram alcançados dessa maneira, mas a aplicação do conhecimento para o desenvolvimento está relacionada à escala – e a África e o Brasil são igualmente grandes e possuem muitas afinidades. Iniciativas como esta multiplicarão enormemente os resultados e os impactos”, afirmou Makhtar Diop, Diretor do Banco Mundial para o Brasil.

Segundo Diop, ex-ministro de Economia e Finanças do Senegal, a agricultura é chave para o desenvolvimento socioeconômico da África e o apoio do Brasil nas áreas de biocombustíveis, cooperativas agrícolas, manejo do solo, sistemas nacionais de pesquisa, e agricultura familiar e comercial pode ajudar as nações africanas em seus esforços para cumprir as Metas de Desenvolvimento do Milênio.

Demanda pelo conhecimento do Brasil

A parceria foi estabelecida como resultado dos debates promovidos pelo Fórum para Pesquisa Agrícola na África (FARA), pela Empresa Brasileira de Pesquisa em Agricultura (Embrapa), pelo Grupo Banco Mundial e pelo Departamento de Desenvolvimento Internacional do Governo Britânico (DFID), no contexto da Reunião de Cúpula Brasil-África, em maio de 2010. A iniciativa também conta com o apoio do Fundo Internacional para Agricultura e Desenvolvimento (IFAD) e da Agência Brasileira de Cooperação (ABC).

“É uma grande conquista estar aqui”, afirmou o Diretor Executivo Adjunto do FARA, Ramadjita Tabo, enfatizando que a África necessita de parcerias de alto nível operacional e estratégico. Ele disse que o treinamento de pesquisadores africanos proporcionado pela Feira de Inovação contribuirá para o desenvolvimento da agricultura no continente.

Segundo Tabo, a África tem potencial para tornar-se um dos produtores mundial de alimentos mas a falta de tecnologia e a adoção limitada de inovação são limitadores. A situação melhoraria notavelmente com um melhor intercâmbio nas áreas de ciência e conhecimento tecnológico, disse Tabo.

O continente já parece mover-se na direção certa, disseram autoridades brasileiras.

“Em qualquer nação, a agricultura forma a base do desenvolvimento econômico e social. Isto é especialmente verdadeiro nos países africanos, que estão passando por um rápido processo de modernização e se organizando para ocupar uma posição de destaque no setor”, observou Wagner Rossi, ministro da Agricultura do Brasil.

A Feira de Inovação ofereceu uma plataforma extremamente importante para que os participantes (pesquisadores em inovação agrícola) e parceiros institucionais possam consolidar e desenvolver o diálogo em curso entre a África e o Brasil.

A iniciativa está se revelando uma oportunidade para que o Grupo Banco Mundial aprofunde o seu papel de catalisador do conhecimento – como uma instituição posicionada de modo singular para combinar a demanda de um país (ou de um continente) com a oferta de experiência de outra nação.

“O Banco Mundial tem um papel claro a desempenhar como catalisador e facilitador, mas também como um repositório de conhecimento e de intercâmbios como este, com vistas a preservar e disseminar as inovações e lições aprendidas”, afirmou Willem Janssen, o principal especialista em agricultura do Banco Mundial, que é também responsável pela parceria entre o FARA e a Embrapa.

Esta é a primeira iniciativa de grande porte resultante da Reunião de Cúpula Brasil-África, ocorrida em maio de 2010, que trouxe mais de 20 ministros de Agricultura africanos ao Brasil.

 


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