A economia cabo-verdiana continuou a recuperar de forma robusta em 2024, com um crescimento real do PIB estimado em 7,3%, impulsionado por um forte aumento das chegadas de turistas e pela primeira campanha agrícola positiva em vários anos. A inflação caiu para uma média de 1% – o nível mais baixo da história recente – o que apoiou o crescimento do rendimento real e ajudou a reduzir a pobreza para níveis inferiores aos registados antes da pandemia.
Embora a recuperação reflita o compromisso sustentado do país com a estabilidade macroeconómica, continua a ser fundamental diversificar a economia para além do turismo, reduzir as vulnerabilidades fiscais associadas ao setor empresarial do Estado, e investir no desenvolvimento inclusivo do capital humano.
A Atualização Económica de Cabo Verde 2025, Desbloquear o Potencial Económico das Mulheres, analisa as tendências recentes e traça uma agenda de políticas para o crescimento inclusivo. O relatório destaca como uma gestão macroeconómica sólida, reformas das EPs e o encerramento das disparidades de género no mercado de trabalho podem expandir o potencial económico do país.
Evolução Recente da Economia
O setor dos serviços, com destaque para o turismo, foi o principal motor de crescimento em 2024, contribuindo com mais de 70% da expansão total. As chegadas de turistas aumentaram 16,5%, atingindo 1,18 milhões, com uma mudança notável para ofertas não tradicionais, como os apart-hotéis. O setor agrícola – que tem enfrentado anos de seca – também registou uma recuperação.
A inflação caiu acentuadamente para uma média de 1,0%, devido à descida dos preços globais dos alimentos e dos combustíveis, o que contribuiu para aliviar o custo de vida. O défice orçamental aumentou ligeiramente para 1,1% do PIB, refletindo uma melhor execução do orçamento de investimento. Apesar disso, o forte crescimento e a prudência fiscal contribuíram para a redução da dívida do governo central para 110,2% do PIB. A conta corrente registou um superavit (3,7% do PIB) pela primeira vez em quatro anos.
Prevê-se que o crescimento real do PIB atinja 5,9% em 2025, com uma tendência de médio prazo próxima dos 5%. Este desempenho, aliado a uma inflação moderada, contribuirá para os esforços contínuos de redução da pobreza. A manutenção do compromisso com a consolidação orçamental permitirá reduzir o défice orçamental e a dívida pública para 0,6% e 93,9% do PIB, respetivamente, até 2027.
Contudo, as perspetivas estão sujeitas a riscos descendentes significativos. Cabo Verde continua fortemente dependente da procura externa e da importação de bens, o que o torna vulnerável a choques globais, à volatilidade dos preços das matérias-primas e a riscos climáticos. As pressões associadas às eleições de 2026 poderão abrandar os esforços de consolidação e o ritmo das reformas necessárias.
Promover a Igualdade de Género para um Crescimento Inclusivo
Apesar dos notáveis progressos alcançados nas áreas da saúde e da educação, as mulheres cabo-verdianas continuam a enfrentar barreiras persistentes no mercado de trabalho, ganhando até menos 14,4% do que os homens e estando sub-representadas nos setores formais e de maior remuneração. As responsabilidades de cuidados e a segregação ocupacional são fatores limitadores.
O relatório salienta que a redução das disparidades de género pode aumentar o PIB até 12,2% ao longo prazo, melhorar a produtividade em setores como o turismo e expandir o empreendedorismo feminino.
Desbloquear o potencial económico das mulheres requer uma estratégia integrada que inclua:
- Expansão do acesso a serviços de cuidados infantis e a modalidades de trabalho flexíveis;
- Promoção do desenvolvimento de competências das mulheres nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM), bem como na Formação Técnica e Profissional e nas economias verde e azul;
- Combate à discriminação por parte dos empregadores e transformação das normas sociais através de campanhas dirigidas e reformas legais.
Para sustentar os progressos e reduzir a vulnerabilidade, Cabo Verde deve continuar a:
- Melhorar a governação e o funcionamento das EPs, com especial atenção às entidades públicas recentemente criadas;
- Manter a disciplina fiscal, assegurando ao mesmo tempo investimentos públicos de elevado impacto;
- Aprofundar a diversificação económica, incluindo nos setores azul e digital;
- Promover políticas inclusivas, com especial destaque para estratégias sensíveis ao género que ampliem as oportunidades para todos.
Cabo Verde está a recuperar bem dos choques recentes. Com a continuação das reformas e a adoção de políticas inclusivas, o país poderá construir uma economia mais resiliente, equitativa e sustentável nos próximos anos.