Aumentar a produtividade da economia é chave para conciliar desenvolvimento e sustentabilidade
Pablo Acosta
Folha de S. Paulo
Diferentemente da maioria dos países do mundo, a posição do Brasil é privilegiada quando se fala em conciliar clima e desenvolvimento. A economia do país é baseada em energias renováveis: quase metade de toda a energia usada no Brasil — mais de 80% no caso da energia elétrica — já vem de fontes renováveis, em comparação com as médias mundiais entre 15% e 27%. Além disso, o país tem competitividade em produtos necessários para a transição para uma economia de baixo carbono, como peças para turbinas eólicas, motores elétricos e geradores. Outro ponto de destaque é a excepcional riqueza natural do Brasil, particularmente na chamada Amazônia Legal, que abriga 60% da Floresta Amazônica e ainda partes de outros importantes biomas como o cerrado e o Pantanal. Estimamos que só a Floresta Amazônica em pé tenha um valor mínimo de US$ 317 bilhões.
Como todas essas vantagens podem se transformar em mais prosperidade e menos pobreza para o Brasil, em um mundo preocupado com mudanças climáticas aceleradas? O ponto chave é aumentar a produtividade do país.
Dois relatórios lançados este mês pelo Banco Mundial, Relatório sobre Clima e Desenvolvimento para o Brasil (CCDR) e Equilíbrio Delicado para a Amazônia Legal Brasileira - Um Memorando Econômico, apresentam oportunidades para o país enfrentar os desafios das mudanças climáticas, tornar-se mais resiliente e impulsionar o crescimento econômico por meio da transição para uma economia de baixo carbono.
O CCDR defende que o país pode se tornar uma potência global em energia limpa e ainda proteger a Amazônia, com investimentos relativamente modestos em agricultura, combate ao desmatamento, energia, cidades e sistemas de transporte. O Brasil poderia entrar nos mercados de produtos de energia solar, expandir sua presença para o segmento de hidrogênio verde e lucrar com seus grandes depósitos de minerais importantes para a proteção do clima. A expansão das energias limpas não custaria mais que os planos atuais para aumentar a geração de combustíveis fósseis. Um aumento no investimento em energias renováveis teria custos iniciais mais altos para a geração, a transmissão e o armazenamento de energia. No entanto, esses custos seriam plenamente compensados pela economia de combustíveis e custos operacionais, diz o relatório. Da mesma forma, a transição nos setores de transporte e indústria rumo a uma maior eletrificação e ao uso de hidrogênio verde, produzido com energia eólica e solar em vez de gás, não geraria custos mais altos para a economia.
Apesar de sua matriz energética verde, o país ainda está entre os dez maiores emissores de gases de efeito estufa no mundo. Não porque use combustíveis poluentes, mas porque continua a derrubar suas florestas para extrair madeira e expandir a agricultura. De 2000 a 2020, 76% das emissões brasileiras vieram desse tipo de mudança no uso da terra. A floresta em pé absorve carbono, mas o desmatamento libera carbono na atmosfera.
Uma das últimas regiões de fronteira do mundo, a Amazônia Legal tem sido alvo da expansão econômica – especialmente no sudeste da região, dentro do que é conhecido como “arco do desmatamento”. O atual modelo de desenvolvimento do Brasil se sustenta na extração insustentável de riquezas da floresta, derrubando-a e convertendo-a em terras agrícolas. Esse modelo contrapõe as pessoas à natureza, destruindo muito mais riquezas do que cria. Há uma necessidade urgente de um caminho alternativo de desenvolvimento que promova a inclusão e o uso sustentável dos recursos naturais.
O estudo “Equilíbrio Delicado para a Amazônia Legal Brasileira” defende um modelo de desenvolvimento que promova, ao mesmo tempo, a produtividade urbana e rural, a proteção florestal e meios sustentáveis de subsistência para a população rural. De acordo com o estudo, o financiamento para a conservação pode desempenhar um papel crucial no financiamento desse modelo. Um modelo de crescimento com foco no aumento da produtividade, equilibrada entre diversos setores e em todo o país, complementa perfeitamente a melhoria da governança territorial e florestal e apoia os esforços mais amplos de combate ao desmatamento.
Assim, será possível oferecer melhores condições de vida aos brasileiros e ainda combater os efeitos das mudanças climáticas.