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OPINIÃO20 de abril de 2023

Como recuperar a aprendizagem no pós-pandemia?

Trabalho feito no Ceará para melhorar a educação básica traz ideias que hoje inspiram o mundo

Pablo Acosta
Folha de S. Paulo

Os estudantes brasileiros aprenderam menos durante a pandemia. Segundo dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), a porcentagem de alunos da rede pública que sabiam ler frases simples no 2º ano do ensino fundamental diminuiu de 81,3% em 2019 para 59,8% em 2021. O impacto em matemática também é visível. A parcela dos alunos que sabiam fazer operações simples envolvendo subtração e adição no 2º ano ensino fundamental diminuiu de 81,3% para 73,8% no mesmo período.

Em meio a esse contexto, um estado se destaca não só pelo que perdeu, mas por estar agindo rapidamente para se recuperar. No Ceará, 90,7% dos estudantes sabiam ler uma frase simples em 2019. Em 2021, apenas 69,9% tinham a mesma habilidade. O percentual dos alunos que sabiam fazer operações simples diminuiu 10 pontos percentuais, mas manteve-se acima da média nacional.

Apesar do impacto, o Ceará ainda tem melhor desempenho na educação do que a média brasileira. Em estados como Sergipe e Amapá, por exemplo, a porcentagem de alunos de 2º ano que não sabem escrever uma frase simples é de acima de 60% (no Ceará é de 30%). Além disso, das 100 melhores escolas públicas de anos iniciais do Brasil, 87 estão no Ceará, de acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) de 2021.

Estudos do Banco Mundial apontam quatro fatores-chave para o sucesso do estado: incentivos para os municípios; apoio técnico às redes municipais; sistema robusto de monitoramento e avaliação; alto grau de autonomia para os municípios. Além desses fatores, é preciso haver liderança política para realizar as reformas.

Tais elementos criam um solo fértil para que as redes municipais prosperem. O município de Sobral,  já analisado por diversos estudos e pioneiro nas reformas educacionais, é um exemplo. Os estudantes de Sobral têm desempenho maior do que os países desenvolvidos de acordo com avaliação do PISA.

Outros municípios chamam atenção. Um deles é Pires Ferreira, com 11 mil habitantes e um dos menores PIB per capita do país, mas que no entanto abriga escolas posicionadas nos primeiros lugares no IDEB dos anos iniciais 2021. Eusébio, localizado na região metropolitana de Fortaleza, também se destaca. O município teve um acelerado crescimento no IDEB nos anos iniciais, passando de 3,8 em 2005 para 6,5 em 2021.

Diante desses resultados, o Ceará se coloca como um exemplo para o Brasil e para o mundo no desenvolvimento de habilidades básicas. Por isso, em março, representantes dos ministérios da educação de Moçambique, Nigéria, Quênia e Serra Leoa vieram ao Brasil para conhecer a experiência do estado com apoio do Banco Mundial. A comitiva faz parte do Programa Acelerador, que objetiva acelerar o progresso em habilidades fundamentais em vários países em desenvolvimento. Os representantes tiveram oportunidade de ir a Sobral, Pires Ferreira e Eusébio para conversar com membros das secretarias municipais, diretores, coordenadores e professores de escolas.

Nessas visitas, algumas ações essenciais para o desenvolvimento das habilidades básicas vieram à tona. Primeiro, as reformas educacionais nos anos iniciais para melhorar a alfabetização ajudam a impulsionar resultados rápidos. Segundo, as avaliações da aprendizagem são indispensáveis para orientar as intervenções. Terceiro, os materiais estruturados com planos de ensino orientados servem de apoio para os professores em sala de aula. Quarto, a formação de professores continuada, a seleção meritocrática de diretores e a estreita relação entre gestores e professores contribuem para a qualidade de ensino. Quinto, os mecanismos de incentivos (prêmios, reconhecimentos ou recursos financeiros) melhoram o desempenho da aprendizagem.

Em conjunto, essas estratégias são capazes de acelerar a retomada do aprendizado pós-pandemia e servem de inspiração para outros países. Em qualquer medida, o Ceará é um modelo para o Brasil e para o mundo para assegurar o desenvolvimento das crianças.

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Coluna escrita em colaboração com minha colega do Banco Mundial Giovanna Pavlovic Quintão, profissional júnior associado da equipe de Educação.

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