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REPORTAGEM11 de setembro de 2023

Sistema de alerta antecipado salva vidas em Moçambique

The World Bank

Evacuation of stranded people from Buzi District, Sofala Province in central Mozambique, in the aftermath of Cyclone Eloise, January 2021. Photo: World Bank

DESTAQUES DO ARTIGO

  • Moçambique é um dos países mais vulneráveis do mundo ao impacto das mudanças climáticas.
  • Graças a um novo sistema de alerta antecipado, o país está melhor equipado para detectar potenciais eventos climáticos extremos, tomar medidas atempadas e minimizar os seus impactos nas vidas das pessoas.
  • Brigadas comunitárias locais sensibilizam e alertam as comunidades sobre perigos iminentes, ajudando-as a prepararem-se e a manterem-se seguras durante eventos climáticos extremos.

MAPUTO, 11 de Setembro de 2023 – Os sistemas de alerta antecipado podem salvar vidas. Avelino Binda, um pescador da província de Inhambane, no sul de Moçambique, sabe bem disso.

Num dia igual a tantos outros, Avelino preparava-se para zarpar com a sua equipa quando uma brigada do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) chegou para o alertar sobre a tempestade que se aproximava. Ele não tinha ideia de que a tempestade estava a caminho, nem centenas de outras pessoas na sua aldeia. A brigada tinha sido treinada para alertar as comunidades sobre perigos climáticos iminentes, como parte do novo sistema de alerta antecipado do país.

O alerta veio mesmo a tempo para arrumarmos os nossos equipamentos e voltarmos para junto das nossas famílias”, recorda Avelino. “Rapidamente, recolhemos os nossos pertences e animais e procurámos abrigo na escola, que fica num terreno mais elevado.”

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Brigada móvel do Instituto de Comunicação Social realiza exercício de mobilização comunitária numa vila piscatória. Foto: Instituto de Comunicação Social

Muitas outras comunidades por todo o país receberam um aviso semelhante através das brigadas comunitárias ou de anúncios de rádio e megafones, dias antes de o ciclone Freddy atingir Moçambique em Fevereiro de 2023. Nessa altura, ainda ninguém sabia que este se tornaria em breve o ciclone de maior duração alguma vez registado, nem que este iria atingir Moçambique duas vezes ao longo de cinco semanas. A memória da devastação deixada pelo ciclone Idai em 2019 ainda estava fresca na mente das pessoas. O ciclone Idai causou extensos danos, tirou a vida a mais de 600 pessoas, deslocou milhares, e desencadeou uma crise humanitária. Também destruiu escolas, estradas, pontes, infraestrutura de energia e instalações de tratamento de água, com enormes repercussões na economia em geral.

Mas desta vez, o país estava muito melhor preparado.

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Em Março de 2019, o ciclone tropical Idai atingiu a cidade da Beira, no centro de Moçambique. Seis semanas depois, o ciclone Kenneth atingiu o norte de Moçambique – a primeira vez de que há registo de dois fortes ciclones tropicais atingirem o país na mesma estação. Foto: Gabinete de Reconstrução Pós-Ciclones

Eventos climáticos extremos não precisam de se tornar desastres

O novo sistema de alerta antecipado de Moçambique permite que as autoridades rastreiem potenciais eventos climáticos com bastante antecedência, tomem medidas precoces, e minimizem o impacto nas pessoas e na propriedade. O sistema combina novas tecnologias, infraestruturas e acção comunitária para alertar as comunidades localizadas em áreas propensas a desastres naturais.

Eis como funciona: primeiro, o Instituto Nacional de Meteorologia (INAM) produz um aviso meteorológico baseado em imagens de satélite, radar e dados da rede de observação. Depois, o Instituto de Comunicação Social (ICS) divulga estes alertas através da sua rede de 70 rádios comunitárias e de brigadas comunitárias que alertam as comunidades em risco, orientando-as para locais seguros antes de uma tempestade, ciclone ou cheia.

O INGD coordena este exercício, com o apoio do Programa de Gestão de Riscos e Resiliência de Desastres do Banco Mundial. O programa promove a criação e o fortalecimento de Comités Locais de Gestão do Risco de Desastres junto das comunidades em risco.

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Uma família que vive numa área propensa a desastres leva os seus pertences e animais para um local seguro. Créditos: Instituto de Comunicação Social

Sistema de alerta antecipado baseado na comunidade

Estes comités locais são formados e equipados para melhorar a preparação e a resposta a catástrofes, e coordenam com as diversas plataformas que divulgam mensagens de alerta antecipado. Estas incluem avisos por SMS emitidos através da Datawinners (uma plataforma digital que reduz o tempo entre a recolha de dados e a tomada de decisões), rádios comunitárias e provinciais, bem como as brigadas do ICS que realizam campanhas de comunicação porta-a-porta.

O número relativamente baixo de vítimas mortais [causadas pelo ciclone Freddy] reflecte o sucesso desta abordagem”, afirma Andrigo Sabonete, um oficial de mobilização do ICS do distrito de Chinde, na Província da Zambézia, um dos pontos de entrada do ciclone.

“O ciclone Freddy foi intenso e destruiu muitas infraestruturas, mas não tirou muitas vidas. O sistema de alerta funcionou.”

O trabalho de mobilização comunitária começa muito antes de o INAM emitir um aviso meteorológico. Ao longo do ano e antes da época dos ciclones, o ICS sensibiliza as comunidades sobre o que podem fazer antes, durante e depois de eventos climáticos extremos. Fazem-no através de debates comunitários, distribuição de informação educativa, caravanas, SMS, boletins meteorológicos e hidrológicos e mensagens sobre riscos de cheias nas principais bacias hidrográficas do país.

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Membros da brigada comunitária do ICS (com coletes cor-de-laranja) realizam uma campanha de comunicação numa escola. Foto: Instituto de Comunicação Social

Comunidades por todo o país sentem o impacto positivo deste novo sistema de alerta antecipado centrado ao nível local.

Com o Ciclone Freddy, sabíamos o que estava para vir e sentimos mais controle sobre a situação. Conseguimos preparar-nos e garantir a segurança das nossas famílias,” disse Regina Mutoro, membro do Comité Local de Gestão do Risco de Desastres no Distrito de Chinde.

Moçambique é um dos países mais vulneráveis do mundo ao impacto das mudanças climáticas. Mas os eventos climáticos extremos não têm de se tornar desastres. Um sistema robusto de alerta atencipado é fundamental para aumentar a resiliência das comunidades e das autoridades, para garantir que, quando o próximo fenómeno climático extremo aconteça, todos estejam prontos para receber e interpretar correctamente as mensagens de aviso e possam tomar medidas atempadas para minimizar o seu impacto. O Banco Mundial continuará a apoiar o Governo de Moçambique a fortalecer o seu sistema de alerta antecipado, bem como a capacidade das comunidades locais para responder a futuros choques climáticos.

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