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REPORTAGEM9 de maio de 2022

Como tratar os sistemas de saúde após uma pandemia?

The World Bank

Bolívia durante a COVID-19. Foto: Patricio Crooker / Banco Mundial

Após dois anos de pandemia, o enfraquecimento generalizado dos serviços de saúde torna iminente a necessidade de reformular os sistemas da América Latina.

Desde a reabertura das escolas, até o fim do isolamento social preventivo e a vacinação em massa, muito tem sido dito sobre a recuperação dos países no pós-pandemia. No entanto, o sistema que não parou de funcionar nos últimos dois anos e foi, sem dúvidas, seriamente afetado de maneira consistente, foi o sistema de saúde.

Tanto o desabastecimento em hospitais e postos de saúde como a qualidade do ambiente de trabalho dos profissionais foram afetados pela incerteza e pela escassez de verbas de emergência. Na medida em que transitamos para o pós-pandemia, faz-se necessário trazer a conversa para o âmbito das políticas públicas visando fortalecer o setor da saúde, que precisa urgentemente de cuidados.

Nesta entrevista, Jeremy Veillard, especialista sênior em saúde do Banco Mundial para a região da América Latina e do Caribe, explica a situação dos sistemas de saúde no pós-pandemia e as lições a serem consideradas a longo prazo na região.

Pergunta. Quais foram as consequências da pandemia nos sistemas de saúde de América Latina e do Caribe?

Resposta. A pandemia teve consequências devastadoras nos sistemas de saúde da América Latina e do Caribe em 2020, com alguma recuperação em 2021. No começo da pandemia, o acesso aos serviços essenciais de saúde foi afetado em grande maneira pelas medidas de isolamento sociais rigorosas na região, pelos gastos do próprio bolso para acessar os serviços de saúde, pela relutância das pessoas em buscar atendimento médico para tratar as infecções, e por uma nova priorização dos profissionais de saúde para a saúde pública e as UTIs. O impacto da pandemia nos profissionais de saúde foi brutal - muitos foram contaminados ou perderam a vida para o vírus, outros estão esgotados pela enorme pressão sofrida no trabalho nesse período. A interrupção ou postergação dos serviços essenciais de saúde também causam preocupação: as taxas de imunização infantil diminuíram, pessoas com doenças crônicas não tem conseguido atendimento médico, os jovens têm apresentado problemas de saúde mental, e o acesso aos serviços de prevenção e detecção de doenças tem sido bastante afetado. No longo prazo, tudo isso terá repercussões nos sistemas de saúde em termos da perda de vidas e incapacidades que poderiam ter sido evitadas, e em termos do impacto na sustentabilidade financeira dos próprios sistemas de saúde.

P. Tem se falado muito sobre a reativação econômica e a volta às aulas, mas o que podemos esperar dos sistemas de saúde na região da América Latina no pós-pandemia?

R. A pandemia revelou lacunas importantes na preparação e resposta a pandemias, bem como a necessidade de sanar a falta crônica de investimentos em emergências de saúde pública. Depois da pandemia, espera-se que os governos realizem os investimentos necessários na preparação e resposta da saúde pública, a começar por redes de laboratórios e vigilância mais robustos, investimentos na força de trabalho da saúde pública, e investimentos em melhores sistemas de informação para o rastreamento e a adaptação à dinâmica de epidemias e futuras pandemias. Além disso, será fundamental fortalecer os sistemas de saúde visando tornar a atenção primária à saúde mais resiliente, capaz de contribuir com a vigilância e a resposta às emergências de saúde pública. Finalmente, a elusiva promessa de cobertura universal de saúde precisa ser priorizada para que os governos possam oferecer acesso gratuito a serviços eficazes e de alta qualidade para todos os cidadãos, especialmente os mais vulneráveis.

P. Quanto aos investimentos, quais deveriam ser as prioridades para os sistemas de saúde nesse contexto de recuperação e incerteza?

R. É preciso priorizar investimentos na recuperação dos serviços essenciais de saúde, como a vacinação infantil, programas de merenda escolar e outros serviços nutricionais, e cirurgias planejadas que foram postergadas, além de, claro, assegurar que as pessoas com doenças crônicas tenham acesso aos serviços de saúde para que consigam controlar suas doenças. Ademais, os governos precisam investir em melhorar a preparação para futuras pandemias, especialmente no fortalecimento dos seus sistemas de vigilância e informação, e das capacidades básicas da saúde pública, incluindo o acesso a insumos estratégicos como as vacinas. Por último, é preciso investir na atenção primária à saúde de alto desempenho centrada na prevenção e na prestação de serviços de qualidade aos cidadãos, sempre que precisarem e onde precisarem.

P. Quais foram as lições deixadas pela pandemia e como podemos implementá-las nos sistemas de saúde da região?

R. Vimos muitas inovações para melhorar o acesso aos serviços. Por exemplo, na Colômbia o número de consultas de telemedicina realizadas durante a pandemia foi dez vezes maior. Outra inovação foram as contas bancárias online disponibilizadas aos mais pobres para receber os benefícios de proteção social durante os períodos de isolamento. A transformação digital continua sendo fundamental na região, assim como o uso da tecnologia para melhorar o acesso aos serviços de saúde sempre que necessário. No entanto, ter acesso a serviços de saúde nem sempre significa ter acesso a serviços de qualidade, que é o que a população deseja. O foco no uso da tecnologia para melhorar a qualidade dos serviços de saúde, especialmente para os mais vulneráveis ou residentes de áreas remotas, será essencial para a recuperação dos sistemas de saúde.

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