Se 70% de todos os pobres trabalham na agricultura e o mundo tem a meta de erradicar a pobreza extrema até 2030, uma conclusão natural é de que esses camponeses precisam de cada vez mais apoio para aumentar as colheitas e a renda. Mas em que exatamente consiste tal apoio?
É possível encontrar muitas respostas a essa pergunta enquanto se percorre o interior de Santa Catarina, onde 92% das propriedades são consideradas pequenas (com até 50 hectares). Lá, uma parceria de 30 anos entre o governo do estado e o Banco Mundial vem gerando lições que podem ser replicadas em outros países em desenvolvimento.
Na atual fase, o Programa SC Rural, que se estende até junho de 2017, atende a 40.000 pequenos produtores rurais, dos quais 4,800 indígenas e 1,300 jovens. Uma recente avaliação de impacto revela que, em cinco anos, a renda dos beneficiários aumentou 118%, enquanto a dos agricultores não atendidos pelo programa subiu 56%.
Então, como transformar a agricultura familiar em um instrumento contra a pobreza? Conheça a seguir quatro fatores:
Conhecimento
Com o que aprendeu em oito meses de um curso para jovens agricultores, Adriano Heerdt conseguiu aumentar a produção de leite, diminuir o custo, melhorar as pastagens e resolver alguns problemas de saúde das vacas de que cuida. A capacitação oferecida pelo SC Rural mistura aulas com atividades práticas, no campo, para levar informações confiáveis a um público que nem sempre tem acesso a educação formal, televisão ou internet.
“Fui aplicando as técnicas que me ensinavam e via que dava certo. Hoje, cada vez mais procuro me aperfeiçoar, porque tudo dá retorno para a gente”, diz Adriano.
A informação sobre melhores práticas, novas tecnologias e oportunidades de mercado hoje é elemento chave para que os agricultores familiares possam competir no mercado de alimentos e aumentar a renda. “Em Santa Catarina, o foco deixou de ser somente em produção agrícola e passou a incluir o agronegócio (ou seja, produção e processamento) e os jovens rurais. Isso deveria ser uma estratégia a seguir no resto do Brasil e no mundo em desenvolvimento”, comenta o economista rural Diego Arias, do Banco Mundial.
Apoio aos jovens
Atualmente, cerca de 9,6 milhões de jovens entre 15 e 29 anos vivem da agricultura nos 20 países latino-americanos (2,3 milhões só no Brasil). A cifra regional caiu 20% na última década, segundo o estudo Juventude Rural e Emprego Decente na América Latina, publicado este ano pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
O documento explica que, embora pareça haver um “fenômeno de jovens empreendedores rurais que conseguem fazer um negócio decolar”, tal conquista não é fácil. Esbarra nas dificuldades de infraestrutura do campo e requer, entre outros incentivos, programas de orientação e financiamento para esse público.
Foi exatamente esse apoio que Jaqueline Grapiglia, 25 anos, encontrou para expandir os negócios familiares. Quando o pai conseguiu montar uma padaria em casa por meio do SC Rural, a jovem viu a oportunidade de voltar para o campo.
Formada em administração e pós-graduada em gestão estratégica, ela também fez o curso de empreendedorismo para jovens, que financia as melhores ideias elaboradas pelos alunos. Como projeto final, criou uma loja de quitutes rurais e agora sonha abrir um café colonial. “O agricultor só vai ficar no campo se tiver perfil para empreender”, aposta Jaqueline.