A curto prazo, a América Latina poderia se ver atingida pela turbulência global, mas um foco maior em melhorar a produtividade a longo prazo poderia sustentar a tendência de crescimento da região, segundo especialistas e líderes na área de desenvolvimento.
Reunidos na 16ª Conferência Anual do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), esses especialistas destacaram que o principal desafio futuro para a América Latina é resolver a questão da produtividade e da competitividade, que estão entre as menores do mundo.
“A América Latina deve empreender o que chamo de ‘Batalha pela produtividade’ se quiser fazer desta década a melhor para a região”, disse o vice-presidente para a região do Banco Mundial, Hasan Tuluy. Embora o atual entorno mundial dificulte cada vez mais a implementação da agenda de desenvolvimento da América Latina, uma melhoria no rendimento ajudaria a manter o impulso de crescimento.
O bom manejo das políticas econômicas e a gestão fiscal resultaram em uma década excepcionalmente boa, comentou Tuluy. A sorte também teve um papel importante.
“Em termos de crescimento mundial e demanda por matérias-primas, o entorno foi favorável, o que resultou em um progresso significativo em troca de um esforço relativamente pequeno.”
“Portanto, apesar de a região estar bem posicionada para seguir construindo sobre a base desses avanços, a próxima fase do desenvolvimento será mais complicada, o que requer um esforço mais sustentado”, explicou Tuluy.
O vice-presidente do Banco para a região da América Latina enfatizou que, para a região, é vantajoso preservar os muitos avanços sociais e econômicos alcançados na última década. Entre eles, estão o fato de 74 milhões de pessoas terem saído da pobreza e de a desigualdade social ter diminuído.
As necessidades de maior inovação e produtividade, de melhor infraestrutura e de uma cooperação mais ampla foram os temas centrais da reunião anual da CAF – uma conferência de especialistas, líderes empresariais e formuladores de políticas para definir os rumos da agenda regional.
Durante o discurso de abertura, o presidente da CAF, Enrique García, apontou que existe um interesse renovado pelos investimentos “verdes” na infraestrutura, especialmente nas estradas. “Devemos nos assegurar de que esses investimentos sejam sustentáveis e respeitem o meio ambiente”, recomendou.
Nesse mesmo sentido, o ex-ministro da economia do Chile Alejandro Foxley pediu que se ponha mais ênfase nas alianças regionais estratégicas “mediante a promoção dessa integração por parte do mundo empresarial”. Foxley citou a Aliança do Pacífico como um exemplo promissor de cooperação regional.
Outro bom exemplo de alianças público-privadas está no recente anúncio, no Brasil, de um plano de US$ 65 milhões para promover os investimentos em infraestrutura. A iniciativa dá ao setor privado um papel importante para compensar o limitado espaço fiscal.
Segundo a base de dados Participação Privada em Infraestrutura, do Banco Mundial, a América Latina atraiu uma cifra recorde de US$ 55,4 bilhões em 2011, o que a transforma na região com maior proporção de investimentos público-privados entre os países em desenvolvimento. A maior parte desse investimento se dirige a projetos de eletricidade e dois terços dele foram para o Brasil.
O desafio de assegurar o investimento em setores diferentes do energético e em países com mais problemas que o Brasil continua presente.
“Sem participação privada, não é viável”, disse o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Alberto Moreno.
O ministro da Economia do Peru, Luis Miguel Castilla, concorda. Ele acredita que arriscar-se e investir em dobro em inovação são os únicos caminhos possíveis para a América Latina.
“Devemos apoiar as agendas e as políticas públicas de longo prazo, ir além do ciclo eleitoral”, disse.
A 16ª Conferência Anual da CAF, realizada entre 5 e 6 de setembro em Washington, foi co-organizada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e pela instituição Diálogo Interamericano.