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OPINIÃO 10 de julho de 2020

A Covid-19 impõe desafios nunca vistos na educação do Brasil

Manter os alunos aprendendo durante a pandemia da Covid-19 impõe desafios sem precedentes à educação no Brasil. A começar por sua dimensão: mais de 47 milhões de alunos estão fora da escola a fim de conter o vírus. Mas também expõe despreparo: professores tiveram que se adaptar da noite para o dia para lecionar remotamente e crianças vulneráveis veem pais com baixa escolaridade substituir professores na educação em casa. A conexão à internet não chega até as famílias vulneráveis e as autoridades locais precisam oferecer alternativas para facilitar o aprendizado remoto. A carga mental para os estudantes, pais e professores devido ao isolamento e à incerteza torna ainda mais difíceis o aprendizado, o ensino e a maternidade/paternidade. Em meio à pandemia e mesmo depois dela, há vários obstáculos a serem levados em consideração.

Estimativas recentes de pobreza de aprendizagem sugerem que 42,2% das crianças de 10 anos no Brasil não compreendem um texto apropriado para a sua idade. Como se já não fosse crítico, a pandemia da Covid-19 tende a deteriorar ainda mais esse cenário. O Banco Mundial estima que o fechamento das escolas devido à Covid-19  aumentará a pobreza de aprendizado em 2,6 pp, atingindo 44,8% das crianças. Mas as consequências são mais profundas que prejudicar a formação de habilidades fundamentais e o aprendizado de outras disciplinas. No curto prazo, as mesmas estimativas mostram que a proporção de crianças não matriculadas na escola pode aumentar 0,1 ponto percentual para crianças em idade escolar. Em outras palavras, o coronavírus fará o Brasil retroceder o equivalente a um ano dos recentes progressos na educação.

Para mitigar esse declínio, os governos têm investido em estratégias para manter o aprendizado durante a pandemia.  Para isso, as políticas estão utilizando infraestrutura preexistente, fornecendo aos professores a preparação adequada e combinando tecnologias a fim de incluir o maior número possível de alunos. Nestas circunstâncias, o aprendizado remoto eficaz e a capacitação de professores no uso pedagógico da tecnologia são políticas complementares. No Brasil, pelo menos 60% dos professores expressaram como “altamente necessária” a capacitação em tecnologia durante o ano de 2017.

As escolas também funcionam como uma rede de segurança para as famílias. Uma fração significativa de crianças somente faz refeições saudáveis e regulares nas escolas. Para as famílias, e especialmente para as mulheres, que frequentemente são as principais responsáveis pelos cuidados com as crianças, o fechamento da escola pode significar acumular atividades de trabalho em casa e de cuidados com os filhos. Mas mesmo para aqueles capazes de encontrar alternativas durante a pandemia, é importante observar que o apoio dos pais às tarefas escolares das crianças se correlaciona fortemente com o status socioeconômico. Por isso, é fundamental dar apoio ao envolvimento dos pais na educação das crianças durante a pandemia de Covid-19 – especialmente quando se fala em mitigar as desigualdades de aprendizagem.

Para entender melhor como os alunos são vulneráveis ao fechamento das escolas, uma alternativa é combinar em um indicador a disponibilidade de refeições escolares; o uso da tecnologia na sala de aula; o apoio da família; se o aluno trabalha fora de casa; seu desempenho em testes padronizados e a probabilidade de abandonar a escola. O índice que explora essas características é mostrado nas Figuras 1 e 2 e pressupõe que os alunos de baixo desempenho que abandonaram a escola no passado são mais vulneráveis à pandemia quando as refeições cessam, os professores não estão preparados para lecionar à distância e as famílias estão menos envolvidas na educação domiciliar, quando comparados aos estudantes na situação oposta.

ImageAs Figuras 1 e 2 indicam que mais esforços para mitigar os impactos da Covid-19 na aprendizagem devem ser concentrados nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Especificamente, os estudantes mais vulneráveis estão no Pará, Alagoas, Pernambuco, Maranhão, Amazonas e Paraíba. Eles estão mais de 0,10 pontos acima da média nacional de 0,52 em termos de vulnerabilidade à pandemia. Os estudantes do Distrito Federal, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Minas Gerais e Paraná estão em uma posição menos vulnerável. Contudo, diferenças no interior dos estados devem ser consideradas.

A reabertura de escolas exige um planejamento cuidadoso. O primeiro passo é estruturar um protocolo claro priorizando a segurança de todos os alunos. Este plano deve sistematizar a reabertura, mas também um eventual fechamento se um novo caso de Covid-19 ocorrer na escola. Nessa etapa, é essencial estabelecer um diálogo aberto com as famílias, os professores e a sociedade a fim de construir confiança no protocolo de reabertura. Os governos locais também devem preparar seus sistemas de proteção social já em vigor para atrair estudantes em risco de não voltar à escola e distribuir cestas básicas condicionadas ao retorno. Quando voltarem, as escolas precisam definir sistemas de alerta precoce e monitorar os jovens estudantes em risco de abandonar a escola.

Programas de aprendizagem focados são fundamentais para sanar as lacunas de aprendizagem causadas pela pandemia. Deve-se priorizar as medidas de mitigação dentro da escola e da rede escolar. No retorno, a aplicação de exames padronizados pode mapear atrasos de aprendizagem e desencadear políticas personalizadas para os alunos mais afetados. Pequenos grupos de tutoria; readaptação de professores; grupos de discussão para aliviar a saúde mental; e programas técnicos flexíveis são alternativas de políticas.

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