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Publicação6 de setembro de 2022

A Ciência da Leitura na Prática: Uma Análise de Materiais Didáticos para Alfabetização em Estados e Municípios Selecionados no Brasil

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Estabelecer uma política de alfabetização na idade certa não é uma tarefa trivial, mas o Brasil conta com bons exemplos que apontam para um caminho de sucesso. Mundo afora, a chamada Ciência da Leitura acumulou muitas evidências sobre como obter uma alfabetização infantil eficaz, mas boa parte delas foi identificada em países de renda alta. Há uma crise de aprendizagem nos países de renda baixa e média, uma vez que 53 por cento das crianças não conseguem ler e compreender um texto simples ao final do ensino primário, de acordo com estimativas referentes ao cenário pré-pandemia de Covid-19.

Um estudo do Banco Mundial procurou identificar em que medida as políticas de alfabetização de redes públicas com melhor desempenho no Brasil estão alinhadas com a evidência internacional sobre da Ciência da Leitura. A análise busca oferecer exemplos práticos de políticas de alfabetização implementadas em países em desenvolvimento que estão alinhadas com as evidências.

Conduzido por Louisee Cruz Boari, sob a liderança de Michael Crawford, o estudo tem natureza exploratória e considerou uma amostra de nove redes públicas com os melhores resultados no ensino fundamental do Brasil: dois estados (Ceará e São Paulo) e sete municípios (Sobral, Teresina, Apucarana, Paranavaí, Coruripe, Teotônio Vilela e Itatiba).  

A análise apresenta cinco ideias-chave:

  1. As redes analisadas estão alinhadas com a Ciência da Leitura no que diz respeito à existência de um documento orientador com um conjunto claro de competências a serem ensinadas e progressão entre estas competências. No mínimo, as redes destacam as competências que devem ser ensinadas no bimestre, mas algumas oferecem orientação mensal, semanal e diária.
  2. Assim como as evidências da Ciência da Leitura, as redes apresentam um alto grau de alinhamento entre currículo, livros didáticos, materiais para professores e ferramentas de monitoramento. Esse alinhamento é conferido por um plano de ensino que conecta todos os recursos e oferece orientação sobre o que ensinar.
  3. Nas redes com orientações diárias sobre o que ensinar, os estudantes recebem mais tempo de instrução (pelo menos sete horas por semana). Estudos relacionam a quantidade de instrução e prática de leitura aos resultados de aprendizagem.
  4. Em relação ao Arco-Íris da Leitura proposto pelo Banco Mundial, que sintetiza as sete competências-chave do processo de alfabetização, há correspondência entre as mesmas e as habilidades listadas na amostra brasileira (com base na análise realizada para 1º e 2º ano do ensino fundamental). Contudo, o Brasil se apresenta mais a frente, pois há prevalência de habilidades mais complexas, como escrita de sequências de palavras progressivamente mais longas e compreensão leitora.
  5. Está presente em todas as redes o uso de avaliações diagnósticas como ferramentas de planejamento e monitoramento da aprendizagem. Avaliações diagnósticas não requerem o mesmo nível de sofisticação técnica que testes padronizados, mas fornecem uma análise rápida dos níveis de aprendizagem, permitindo aos professores intervir rapidamente para assegurar que todos os alunos desenvolvam as competências essenciais.

O estudo é um excelente ponto de partida para governos e redes de ensino identificarem pontos de melhoria nos programas de alfabetização e estabelecerem estratégias para implementá-los.  Em meio a um cenário desafiador de perdas de aprendizagem com a pandemia, identificar boas práticas alinhadas com a ciência ajuda a traçar um caminho de recomposição de aprendizagens.