Ponha-se, por um momento, na pele de um agricultor em pequena escala, no Moçambique rural. Duas semanas antes da colheita, uma imensa inundação destrói toda a sua produção de milho. Era com essa colheita que contava para o seu rendimento anual e para a sua alimentação. Que faria? Que medidas tomaria?
Quando Alina, uma mulher residente no norte de Moçambique (i) perdeu toda a sua criação de galinhas e a maioria dos patos devido a uma doença, em Setembro 2014, as suas opções eram limitadas. Não tinha acesso a uma conta poupança, crédito para emergências ou um seguro de colheitas na sua quinta que lhe permitissem recuperar das perdas. A sua única opção era cortar na comida e entre Janeiro e Maio foram muitas as vezes que foi para a cama com fome.
Para além de mal equipados para enfrentarem riscos de saúde, financeiros e agrícolas, os pequenos proprietários do estudo dos Diários de Pequenos Proprietários do CGAP (i) tinham pouco a quem recorrer quando as coisas corriam mal. Por exemplo, Bertha, uma viúva da Tanzânia (i) com cinco filhos, perdeu cerca de metade do seu potencial rendimento agrícola quando um comprador local falhou o pagamento de um fornecimento considerável de batatas. Não tinham firmado um acordo formal de venda e ela não conseguia vislumbrar como receber esse dinheiro ou evitar, no futuro, problemas similares.
Há cerca de 500 milhões de pequenos agregados familiares de proprietários, que representam mais de dois mil milhões de pessoas. A maioria são agricultores em pequena escala, que cultivam menos de cinco acres, e constituem uma parte significativa dos pobres do mundo, que sobrevivem com menos de 2 dólares por dia. É por isso que melhorar as vidas que constituem este imenso grupo, é uma prioridade para o esforço de acabar com a pobreza global. No entanto, até agora, muito pouco se sabia sobre a vida financeira destes pequenos agricultores, o que tornava difícil saber como os ajudar.
Os Diários dos Pequenos Proprietários, do CGAP, cobrem em parte esta lacuna na informação e oferecem recomendações quanto ao tipo de serviços financeiros, assistência e formação, que podem melhorar as suas vidas. Este estudo, feito ao longo de um ano, tendo por modelo a metodologia iniciada por investigadores no livro Portfolios of the Poor, (Portefólios sobre os Pobres) rastreou o rendimento, despesas e produção agrícola (i) de 270 famílias de pequenos proprietários em Moçambique, Tanzânia e no Paquistão (i). Entrevistas pormenorizadas, realizadas de duas em duas semanas, produziram cerca de 500.000 pontos de dados sobre a vida financeira (i) e agrícola destas famílias. Mas os resultados do estudo vão além desses dados.
Este inquérito permite uma panorâmica única sobre os meios de vida das famílias de pequenos proprietários e sobre a forma como gerem o seu dinheiro, fornecendo dados sobre as dificuldades, riscos e cedências que estas famílias têm de enfrentar no seu dia-a-dia. O relacionamento que se gerou entre os investigadores e as famílias permitiu criar condições para colher importantes detalhes, que não poderiam ter sido captados num inquérito único.
“Não se trata apenas de fluxos de caixa,” diz Kristy Bohling, diretora da Bankable Frontier Associates e investigadora chefe da área do estudo relativa à Tanzânia. “O principal, são estas histórias relativas à educação, saúde, atividades geradoras de rendimentos e à vida em geral.”