Discursos e Transcrições

Uma globalização inclusiva e sustentável

10 de outubro de 2007


Robert B. Zoellick, Presidente do Grupo Banco Mundial The National Press Club, Washington D.C.

Conforme preparado para pronunciamento

Depois de servir 100 dias como Presidente do Grupo Banco Mundial, quero compartilhar as minhas impressões e idéias iniciais a respeito da orientação estratégica.
 
Agradeço imensamente o incentivo e apoio recebido de muitos lugares.  Tenho a sensação de que as pessoas no mundo inteiro – nos países tanto em desenvolvimento como desenvolvidos – reconhecem a necessidade e o potencial dessa criação inigualável.  O Grupo Banco Mundial é uma das grandes instituições multilaterais estabelecidas no mundo após a Segunda Guerra Mundial.  Sessenta anos mais tarde, precisa adaptar-se a circunstâncias enormemente diferentes em uma nova era de globalização.
 
O pessoal do Grupo Banco Mundial tem-me ajudado a aprender, mostrado o nosso trabalho vital no campo e oferecido novas idéias ao estabelecermos um curso para o futuro.  A Diretoria Executiva oferece diretrizes experientes ao nos empenharmos em transformar boas intenções e análises em ações produtivas.
 
A face do Grupo Banco Mundial

No entanto, a face real do Grupo Banco Mundial não é a geralmente vista em Washington ou nas salas de recepção das capitais dos nossos principais acionistas.
 
Quando em agosto último visitei a Província Yen Bai, nas montanhas do norte do Vietnã, conheci uma mulher que agora tem eletricidade para ajudar a moer o arroz, bombear água, funcionar ventiladores e iluminar uma casa de um só cômodo para que os seus filhos possam estudar à noite – porque o Banco Mundial financiou um projeto de eletrificação no Vietnã.  A eletricidade agora facilita as tarefas de mais de 90% dos domicílios rurais no Vietnã.  Tal como em outras sociedades, a eletrificação rural, acima de tudo, capacita as mulheres que carregam o peso do trabalho agrícola diário.
 
Em Honduras, o Banco Mundial está ajudando a salvar o Parque Nacional Pico Bonito por meio do Fundo de Biocarbono, que apóia os agricultores, os quais, em vez de cortar as árvores Redondo nativas, estão vendendo as sementes delas e replantando mudas.  Como afirmou um agricultor, “ainda temos as nossas árvores e ainda posso ganhar dinheiro, até mais do que antes.  Até mesmo cuidamos das sementes silvestres.”
 
Na Nigéria, a Corporação Financeira Internacional, o nosso ramo do setor privado, ajudou uma mãe solteira na aldeia de Ovoko a conseguir um empréstimo de microcrédito para tornar-se operadora de telefones do local.  Antes os moradores tinham de viajar um dia inteiro para fazer uma ligação telefônica.  Agora essa empresária ajuda os vizinhos a se conectarem com o mundo mais amplo, ao mesmo tempo ganhando dinheiro para pagar a matrícula escolar dos filhos e remédios para o próprio tratamento do HIV/AIDS.
 
Dada a oportunidade, as pessoas de todas as partes querem construir uma melhor vida para si mesmas e seus filhos.  Esse impulso, se lhe for dada uma oportunidade, pode contribuir para uma sociedade global saudável e próspera.
 
“Uma globalização inclusiva e sustentável”:  As necessidades

Vivemos em uma era de globalização.  No entanto, os contornos são incertos.  Desde o fim da Guerra Fria, o número de pessoas na economia de mercado mundial passou de cerca de um bilhão para quatro ou cinco bilhões – aumentando tremendamente a força de trabalho produtiva, construindo novas fábricas e centros de serviços em todo o mundo em desenvolvimento, impulsionando a demanda de energia e produtos básicos e criando vastas possibilidades para o aumento do consumo.  Novos fundos comuns de poupança aumentam os fluxos de capital global sacados para oportunidades de investimento oferecidas tanto pelos mercados emergentes como pelas economias em transformação.  Avança a transferência de aptidões, tecnologias, informação e conhecimentos práticos aplicados.
 
O novo fluxo global do comércio aumentou mais de duas vezes desde 1990. Um maior número de economias abertas diminui o custo de bens e serviços.  Mais países dependem do crescimento impulsionado pela exportação.  Embora as compras das economias desenvolvidas continuem a ser importantes, os novos padrões de comércio refletem cadeias de suprimento regionais e globais e aumentam o comércio “Sul-Sul”.  Quase 300 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema.
 
No entanto, muitos continuam marginalizados e alguns estão ficando para trás.  Podem ser classificados como países, como regiões e grupos dentro de países ou como indivíduos.  Sua exclusão tem muitas causas, inclusive conflitos, má governança e corrupção, discriminação, falta de atendimento de necessidades humanas básicas, doença, ausência de infra-estrutura, gestão econômica e incentivos precários, falta de direitos de propriedade e regime de direito e até mesmo a geografia e o clima.
 
Podemos também observar o desafio ambiental dessa extraordinária onda de crescimento, com rios que escurecem, céus que bloqueiam o sol e ameaças à saúde e ao clima.
 
A globalização oferece oportunidades incríveis.  Porém a exclusão, pobreza opressiva e dano ambiental criam perigos.  Os que mais sofrem são os que menos têm para começar – povos indígenas, mulheres nos países em desenvolvimento, camponeses pobres, africanos e os seus filhos.
 
A visão do Grupo Banco Mundial é contribuir para uma globalização inclusiva e sustentável – superar a pobreza, aumentar o crescimento sem descuidar do meio ambiente e criar oportunidades e esperança para os indivíduos.
 
Em 2000, os países membros das Nações Unidas estabeleceram as Metas de Desenvolvimento do Milênio – objetivos ambiciosos para reduzir a pobreza pela metade, combater a fome e a doença e prestar serviços básicos aos pobres até 2015. Essas metas, as nossas metas, são destacadas na entrada principal do edifício da nossa sede, lembrando-nos diariamente do que estamos empenhados em conseguir.
 
Esses objetivos de desenvolvimento social sólido devem ser combinados com os requisitos de crescimento sustentável, impulsionados pelo setor privado, em um contexto de apoio às políticas públicas.
 
Consideremos algumas das necessidades.

Anualmente a malária atinge cerca de 500 milhões de pessoas em todo o mundo.  No entanto, poderíamos chegar perto de superar esse principal assassino de crianças africanas.  Seria necessário um investimento de cerca de US$ 3 bilhões por ano nos próximos anos para fornecer a todos os domicílios vulneráveis à malária mosquiteiros tratados, medicamentos e volume modesto de inseticida em locais fechados.
 
A Agência Internacional de Energia estima que os países em desenvolvimento precisem de aproximadamente US$ 170 bilhões em investimento no setor energético por ano na próxima década apenas para atender às necessidades de eletricidade, restando outros US$ 30 bilhões por ano para a transição a uma mescla de energia de baixo teor carbônico.
 
Outros US$ 30 bilhões por ano são necessários para alcançar as Metas de Desenvolvimento do Milênio de abastecimento de água potável a 1,5 bilhão de pessoas e saneamento a 2 bilhões que carecem das necessidades mais básicas, bem como de melhoria da igualdade de gênero nos países pobres.
 
Há necessidade de outros US$ 130 bilhões por ano para atender aos requisitos da infra-estrutura de transportes dos países em desenvolvimento crescente, inclusive cerca de US$ 10 bilhões por ano para terminais marítimos de contêineres a fim de aproveitar as oportunidades do comércio.
 
E para proporcionar educação primária a cerca de 80 milhões de crianças que estão fora da escola, outra Meta de Desenvolvimento do Milênio, os países de baixa renda necessitarão cerca de US$ 7 bilhões por ano.
 
Como o Grupo Banco Mundial pode ajudar

Atender a essas necessidades não é, naturalmente, apenas uma questão de dinheiro.  Nem é função do Grupo Banco Mundial financiar os investimentos por si só.
 
O propósito do Banco Mundial é prestar assistência aos países para se ajudarem a si mesmos catalisando o capital e políticas por meio de uma mescla de idéias e experiências, desenvolvimento de oportunidades do mercado privado e apoio à boa governança e anticorrupção – impulsionado pelos nossos recursos financeiros.
 
O propósito do Grupo Banco Mundial é avançar idéias sobre projetos e acordos internacionais sobre comércio, finanças, saúde, pobreza, educação e mudança climática, de forma que beneficiem a todos, especialmente as pessoas de baixa renda que procuram novas oportunidades.
 
Devemos expandir as fronteiras do pensamento sobre políticas e mercados, desbravando novas possibilidades e não apenas reciclando o que foi sofrivelmente comprovado com uma modesta vantagem financeira.
 
Eu ressaltei a idéia do Grupo Banco Mundial para chegar ao ponto desejado.  Nós somos uma única instituição que opera por meio de afiliados especializados, como é o caso de muitas grandes firmas financeiras.  Precisamos reforçar a nossa interação e eficiência como Grupo.
 
O nosso Grupo tem quatro partes principais.  O Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) é o nosso ramo financeiro público, concedendo empréstimos baseados nos preços de mercado e gestão de riscos, bem como outros serviços financeiros, combinados com uma profunda experiência em desenvolvimento.  A Associação Internacional de Desenvolvimento (AID) é um conduto de ajuda que oferece empréstimos sem juros e subsídios aos 81 países mais pobres, bem como um alívio significativo da dívida.  A Corporação Financeira Internacional (IFC) é o nosso ramo do setor privado. Faz investimentos de capital, empréstimos e garantias, oferecendo ao mesmo tempo serviços de assessoria nos países em desenvolvimento.  E a Agência Multilateral de Garantia de Investimentos (MIGA) fornece seguro contra riscos políticos.  Operando em conjunto, podemos utilizar essas ferramentas para assegurar que o todo seja maior do que a soma das partes.
 
Todos estes componentes compartilham um conjunto de aprendizagem especializada e experiência que abrange uma série de disciplinas do desenvolvimento.  Aplicar, expandir e testar esse conhecimento – em conjunto ou com o financiamento ou separadamente dele – é a parte mais importante do nosso trabalho.
 
Cinco passos

Nos últimos dois meses, trabalhando em estreita colaboração com a nossa Diretoria Executiva, a Administração do Grupo Banco Mundial começou a tomar medidas para ir adiante.  Ao fazer isso, estamos também reforçando as sinergias entre essas entidades companheiras.
 
Neste ano estamos recompondo os fundos da AID, a principal ferramenta do Grupo para os países mais pobres e para a África em particular.  É a 15ª recomposição da AID; cada novo refinanciamento abrange os próximos três anos.
 
Estamos discutindo com cerca de 40 países doadores, juntamente com os mutuários, como estabelecer prioridades, fortalecer políticas e melhorar nossa eficácia junto aos países da AID.  A generosidade dos doadores é fundamental para o sucesso dessa recomposição e nós nos sentimos encorajados com o seu apoio em busca de um resultado ambicioso.
 
Quero que todos os doadores saibam – em termos concretos – que o Grupo Banco Mundial acredita no que faz quando se trata de impulsionar a AID.
 
Assim, é para mim uma satisfação anunciar que a nossa Diretoria Executiva concordou em que o Grupo Banco Mundial assuma a liderança contribuindo com US$ 3,5 bilhões dos seus próprios recursos para a AID-15. É mais do que o dobro do montante de US$ 1,5 bilhão que tínhamos prometido à AID-14 em 2005. Com essa contribuição sólida desafiamos os países doadores a se comprometerem com um aumento ambicioso em números para ajudar os mais pobres, especialmente na África e no Sul e Leste da Ásia.  A África do Sul já estabeleceu um bom padrão ao prometer um aumento de 30% no seu financiamento à AID.  Agora precisamos que o G-8 e outros países desenvolvidos também transformem as suas palavras de declarações nas cúpulas em números sérios.
 
A nossa contribuição para a AID depende, naturalmente, da renda anual do BIRD e da IFC, conforme distribuída pelas respectivas Diretorias Executivas, mas cremos que estender ao máximo essa meta ampliada é possível.  Instamos os outros também a chegarem ao máximo.
 
Segundo, estamos comprometidos com uma estratégia de crescimento mais sólido da IFC.  A IFC está bem capitalizada e está aumentando os seus investimentos no setor privado nos países da AID, nos países de renda baixa à média, bem como nas regiões e setores necessitados dos países de renda média.
 
Terceiro, intensificaremos a cooperação entre a IAD e a IFC para impulsionar os setor privado nessas economias.  No ano passado, 37% dos investimentos da IFC foram destinados aos países da AID e aumentaremos essa cifra.  A IFC também está lançando uma nova infra-estrutura e fundos de microcapital para os países da AID.  Além disso, a AID e a IFC podem co-investir para apoiar parcerias público-privadas em projetos de infra-estrutura, especialmente nos setores de energia, transportes, recursos hídricos, agricultura e microcrédito.  Esses projetos podem apoiar a integração de mercados regionais, elemento especialmente vital para os Estados menores e mediterrâneos da África.
 
Quarto, embora o BIRD esteja bem capitalizado, a nossa atividade de concessão de empréstimos está diminuindo.  Hoje cerca de 70% das pessoas de baixa renda vivem na Índia, China e nos países de renda média atendidos pelo BIRD.  Esses países pediram-nos para continuarmos a participar da busca da melhor forma de atender às suas necessidades diversificadas.  Portanto, o BIRD deve crescer, não diminuir.  Naturalmente, como discutiremos mais adiante, os nossos serviços aos países de renda média devem continuar a ampliar-se muito além do crédito.  No entanto, a nossa colcha de retalhos de preços, refletindo os ajustes feitos em 1998, confundiram os nossos clientes.  Os empréstimos do BIRD – combinados com uma perícia personalizada e atualizada em formulação de políticas – continuam a ser valiosos.  A nossa mescla de empréstimos e serviços de conhecimentos é especialmente importante para ajudar os países no desenvolvimento social e expansão da energia e infra-estrutura de modo ambientalmente seguro.
 
Portanto, no intuito de melhor atender às grandes necessidades dos países de mercado emergente, pedi à Diretoria Executiva para simplificar e reduzir nossos preços, de forma que possamos expandir os empréstimos em apoio ao desenvolvimento e crescimento.  Tenho a satisfação de comunicar que a Diretoria Executiva concordou, esclarecendo as nossas tarifas e reduzindo taxas ao nível anterior à crise asiática.  Esta medida pode ajudar-nos a catalisar a expansão de nossos serviços.   Porém ainda temos mais a fazer. Precisamos também abordar os custos não-financeiros de fazer negócios.  Nosso objetivo é agir mais rapidamente, melhor e mais barato.
 
Estas medidas são apenas um início.  Elas assinalam o caminho, por meio de marcos concretos, para um horizonte em expansão.
 
“Uma globalização inclusiva e sustentável”:  uma abordagem multilateral

A globalização não deve deixar atrás o “bilhão de baixo”.  Tal afirmação baseia-se em mais do que respeito pelo valor de nossos concidadãos, homens e mulheres, e mais além de uma apreciação de que qualquer de nós poderia ter nascido em circunstâncias semelhantes.  A globalização inclusiva é também questão de auto-interesse.  A pobreza gera instabilidade, doença e devastação de recursos comuns e do meio ambiente.  A pobreza pode conduzir a sociedades enfraquecidas que se podem tornar terreno propício para pessoas inclinadas à destruição e migrações que põem a vida em risco.
 
A globalização também tem produzido benefícios desiguais a bilhões de habitantes de países de renda média que começaram a subir a escada do desenvolvimento desde o fim da Guerra Fria.  Em muitos lugares, as tensões sociais estão enfraquecendo a coesão política.  Os países de renda média abrigam 60% das florestas do mundo e 40% das emissões globais de CO2 de fósseis combustíveis.  Juntamente com os países desenvolvidos que produzem a maior parte das emissões, esses países serão a chave para a elaboração de uma abordagem global à mudança climática.  Os países de renda média precisam continuar a crescer, a oferecer desenvolvimento inclusivo e a adotar políticas ambientais para uma prosperidade sustentável.
 
A maior influência dos países em desenvolvimento levanta outra questão:  qual será o seu lugar nesse sistema global em evolução?  Não se trata de uma questão como os países grandes em desenvolvimento interagirão com os países desenvolvidos, mas também com os Estados mais pobres e menores do mundo.  Seria realmente irônico o Grupo Banco Mundial deixar de trabalhar com os países de renda média em um momento em que os governos estão reconhecendo a necessidade de integrá-los de forma mais eficaz na diplomacia e nas instituições de segurança política.  Por que não integrá-los também como parceiros nas instituições de economia multilateral?
 
Há dois anos eu sugeri que a China aproveitasse o seu sucesso tornando-se “interessada responsável” no sistema internacional.  Naturalmente, isso também representa um desafio para outros no que diz respeito a conseguir uma globalização inclusiva e sustentável.  E acompanhando a responsabilidade, deveria haver voz e representação maiores.  Precisamos fazer avançar a agenda de fortalecimento da participação dos países em desenvolvimento por meio do trabalho e pessoal do Grupo Banco Mundial.
 
Os países desenvolvidos também estão enfrentando as oportunidades e limitações da globalização.  As pessoas estão ansiosas a respeito do ritmo da mudança, embora muitos das gerações mais jovens se adaptem com uma flexibilidade admirável.
 
O sentido comum do público dos países desenvolvidos leva-o a reconhecer que não existe recurso bem-sucedido ao isolamento.  A decência comum – bem como o auto-interesse – impulsiona-o a reconhecer a interdependência, mesmo ao debater a melhor forma de consegui-lo.
 
Em comparação com a escala desses desafios globais o Grupo Banco Mundial é uma instituição modesta.  No entanto, juntamente com seus parceiros multilaterais – as Nações Unidas e suas entidades especializadas, o FMI, a OMC e os bancos regionais de desenvolvimento – o Grupo Banco Mundial precisa desempenhar um papel importante em avançar uma globalização inclusiva e sustentável.  As instituições multilaterais têm sido assacadas e criticadas.  Precisam combinar deliberações com resultados eficazes.  Devem superar debilidades internas e utilizar a própria força.  Em conjunto, devemos mostrar que o multilateralismo pode funcionar de forma muito mais eficaz – não apenas em salas de conferência e comunicados, mas nas aldeias e cidades fervilhantes onde vivem os mais necessitados.
 
A globalização inclusiva e sustentável deve ser promovida pelas instituições globais.  O Grupo Banco Mundial dispõe de recursos financeiros significativos; quadro de pessoal experiente, bem informado e dedicado; poder de reunião; pessoal em mais de 100 países; e 185 Estados membros.  Na sua melhor forma, o Grupo Banco Mundial pode mobilizar outros recursos – públicos, privados, financeiros e humanos – para gerar efeitos de demonstração e efeitos multiplicadores.  Se bem-sucedido, o Grupo Banco Mundial é um catalítico para o dinamismo de mercado que aproveita as oportunidades de globalização, de forma tanto inclusiva como sustentável.
 
Seis temas estratégicos

Qual então deve ser a orientação estratégica do Grupo Banco Mundial?
 
Passo agora a destacar brevemente seis temas estratégicos que apóiam a meta de uma globalização inclusiva e sustentável.  Em uma semana realizaremos a Reunião Anual do Grupo Banco Mundial e FMI.  Nessa oportunidade espero discutir esses seis temas em maior detalhe com os Governadores do Banco Mundial e com a comunidade mais ampla de partes interessadas, incluindo as organizações da sociedade civil, empresas e fundações.
 
Primeiro, o Grupo Banco Mundial enfrenta o desafio de ajudar a superar a pobreza e impulsionar o crescimento sustentável nos países mais pobres, especialmente na África.  A AID é o instrumento central de financiamento para os 81 países mais pobres.
 
Nesses países precisamos concentrar-nos intensamente com os nossos parceiros em alcançar as Metas de Desenvolvimento do Milênio.  Essas necessidades básicas estabelecerão os alicerces do futuro.
 
No entanto, a mensagem que recebi ao viajar pela África em junho e pela Ásia em agosto foi que os objetivos do desenvolvimento social são necessários, mas não suficientes.  A boa notícia é o fato de 17 países africanos, que abrigam 36% da população, terem alcançado um crescimento médio anual de 5,5% de 1995 a 2005. Esses países querem ajuda no fortalecimento da infra-estrutura para conseguir um crescimento maior – especialmente em matéria de energia e instalações físicas para apoiar a integração regional.  Querem também a nossa ajuda no desenvolvimento de mercados financeiros locais, inclusive microcrédito, que possam mobilizar a poupança africana para o crescimento da África.
 
Os líderes africanos vêem grande potencial na expansão da agricultura, cada vez mais por meio do aumento da produtividade.  O Relatório sobre Desenvolvimento Mundial do Grupo Banco Mundial, a ser divulgado em breve, destacará que o aumento do PIB proveniente da agricultura beneficia os mais pobres quatro vezes mais do que o crescimento oriundo de outros setores.  Precisamos de uma Revolução Verde do século XXI estruturada para atender às necessidades especiais e diversificadas da África, motivada por maiores investimentos em pesquisas tecnológicas e divulgação, gestão sustentável da terra, cadeias de suprimento agrícola, irrigação, microcrédito rural e políticas que fortaleçam as oportunidades de mercado, prestando ao mesmo tempo assistência às vulnerabilidades e inseguranças rurais.  Mais países também precisam abrir seus mercados para as exportações agrícolas.
 
Outros 8 países africanos, que abrigam cerca de 29% da população, tiveram crescimento médio de 7,4% entre 1995 e 2005 por causa dos seus recursos petrolíferos.  Para tais Estados e alguns países da AID em outras regiões, o principal desafio para o desenvolvimento é estimular a boa governança e as políticas de combate à corrupção, juntamente com uma expansão da capacidade do setor público local, a fim de garantir que os rendimentos dos recursos construam um futuro sustentável para todos os cidadãos.
 
Em segundo lugar, precisamos abordar os problemas especiais dos Estados que estão saindo do conflito ou tentando evitar o colapso do país.
 
Quando os visionários de Bretton Woods idealizaram o BIRD há mais de 60 anos, o “R” representava a reconstrução da Europa e do Japão.  Hoje o “R” nos aponta para o desafio da reconstrução nos Estados prejudicados pelos conflitos modernos.
 
Em seu livro The Bottom Billion (O bilhão de baixo) Paul Collier afirma que 73% desse bilhão vivem em países que passaram por guerras civis.  Infelizmente, esses conflitos não apenas acarretaram sofrimento extraordinário para as pessoas diretamente envolvidas, mas os efeitos secundários detêm o progresso também de seus vizinhos.
 
Francamente, nosso conhecimento de como lidar com esses casos devastadores é, na melhor das hipóteses, reduzido.  Suponho que precisemos de uma abordagem mais integrada que envolva segurança, estruturas políticas, reconstrução da capacidade local com apoio rápido, reintegração dos refugiados e maior flexibilidade na assistência para o desenvolvimento.  O trabalho construtivo do Grupo Banco Mundial na Bósnia, Ruanda e Moçambique demonstra o que é possível fazer.  A capacidade de adaptação e os rápidos desembolsos da AID demonstraram ser vitais nos ambientes pós-conflito e estamos trabalhando com os doadores para aumentar nossa eficácia.
 
No momento, estamos atuando no Sul do Sudão, Libéria, Serra Leoa, República Democrática do Congo, Burundi, Costa do Marfim, Angola, Timor Leste, Papua Nova Guiné, Estados insulares do Pacífico, Afeganistão e Haiti, entre outros, sempre por intermédio de fundos fiduciários criados pelos doadores e em harmonia com a ONU.  Se houver um acordo de paz efetivo em Darfur, apoiado por uma robusta força de segurança formada pela ONU e União Africana, o Grupo Banco Mundial gostaria de ajudar.
 
Terceiro, o Grupo Banco Mundial precisa de um modelo de negócios mais diferenciado para os países de renda média.  Esses Estados continuam a enfrentar grandes desafios ao desenvolvimento.  Os recursos financeiros para serviços sociais críticos e infra-estrutura continuam insuficientes.  Em muitos casos, o rápido crescimento econômico não proporcionou oportunidades para as pessoas de baixa renda.  Os problemas ambientais são graves.  E ainda há um constante potencial de volatilidade no fluxo de capital para esses países – como os que testemunhamos durante as décadas de 1980 e 1990.
 
Cientes de tais desafios, nossos membros de renda média querem que o Grupo Banco Mundial mantenha seu compromisso com eles por intermédio de um conjunto competitivo de “soluções para o desenvolvimento”.  Mas esse compromisso precisa refletir os importantes avanços em sua posição financeira e capacidade institucional na última década.  Querem que o BIRD, por exemplo, preste serviços bancários muito mais flexíveis e com preços melhores, com menos burocracia e mais agilidade.  Estão recorrendo à IFC em busca de ajuda para desenvolver soluções para o setor privado dos mercados subdesenvolvidos e até mesmo necessidades sociais.  E estão nos impondo padrões de qualidade cada vez mais elevados, regularidade e custo-eficácia em nossos serviços de assessoria.  Em suma, querem desempenho e é exatamente o que pretendemos lhes fornecer.
 
Para alguns países de renda média focaremos cada vez mais nossos serviços nas áreas de gestão do risco e aplicação da experiência de âmbito global às necessidades locais.  Podemos oferecer aumentos de crédito, proteção cambial e perícia neutra que ajudem a construir a competência para a gestão de ativos.  Podemos incentivar os mercados de títulos mediante ajuda para criar fundos de obrigações e índices em moeda nacional.  Podemos oferecer financiamento em moedas nacionais para ajudar a combinar nossos empréstimos com a gestão do risco cambial.  Para incentivar o crescimento inclusivo dentro dos países podemos trabalhar com as autoridades subnacionais.  No momento, estamos desenvolvendo instrumentos de financiamento de contingência para auxiliar as necessidades de liquidez de emergência durante choques financeiros, bem como facilidades no mercado de seguros a fim de ampliar a disponibilidade e reduzir o custo da cobertura de catástrofes naturais, tais como furacões e terremotos.  Algumas dessas atividades podem levar-nos a investigar a melhor forma de prestar serviços e conhecimento remunerados, oferecendo aos nossos países clientes uma opção de fornecimento com ou sem financiamento.
 
Quarto, o Grupo Banco Mundial precisará desempenhar um papel mais ativo na promoção dos bens públicos regionais e globais que transcendem as fronteiras nacionais e beneficiam múltiplos países e cidadãos.   É nosso objetivo garantir que essa agenda esteja vinculada aos objetivos do desenvolvimento.
 
O Grupo Banco Mundial já demonstrou seu potencial para auxiliar no combate às doenças transmissíveis por intermédio do seu trabalho com HIV/AIDS, malária, gripe aviária e desenvolvimento de vacinas.  Estamos em processo de reexaminar formas de fortalecer a ligação entre ajuda e comércio, inclusive por intermédio do avançado projeto de financiamento comercial da IFC, enfocado principalmente na África que, em dois anos, já apoiou quase US$ 2 bilhões de transações comerciais.
 
Estamos trabalhando com nossa Diretoria Executiva para aumentar consideravelmente nossa ajuda aos esforços internacionais na abordagem da mudança climática.  Em nossas próximas Reuniões Anuais e na Conferência da ONU sobre Mudança Climática em Bali em dezembro próximo espero apresentar um portfólio de maneiras pelas quais o Banco Mundial pode ajudar a integrar as necessidades de desenvolvimento e de crescimento com baixa emissão de carbono.  Precisamos enfocar especialmente os interesses dos países em desenvolvimento para podermos vencer o desafio da mudança climática sem retardar o crescimento que ajude a superar a pobreza.
 
Nosso trabalho com bens públicos regionais e globais exigirá a estreita colaboração com outros organismos que tenham perícia especializada, como a OMS, UNEP, UNODC e OMC.  Precisamos também determinar a vantagem comparativa do Grupo Banco Mundial para enfocar da melhor forma nossos recursos mediante abordagens seletivas e diferenciadas.  Graças à nossa especialização no trabalho relacionado ao desenvolvimento no âmbito nacional, nosso mais importante desafio operacional será apoiar os países à medida que eles determinarem a melhor forma de integrar as políticas de bens públicos – e as oportunidades regionais e globais – aos programas nacionais.  Essas oportunidades devem atrair tanto empresários do setor privado como energias.
 
Quinto, um dos desafios mais notáveis de nosso tempo é como apoiar aqueles que procuram promover o desenvolvimento e as oportunidades no mundo árabe.  No passado, essas terras foram o centro do comércio e do conhecimento, o que evoca seu potencial se conseguirem ultrapassar o conflito e as barreiras ao crescimento e ao desenvolvimento social.  Sem um crescimento amplo, esses países enfrentarão tensões sociais e um grande número de jovens incapazes de obter emprego.  Os relatórios da ONU sobre o Desenvolvimento Humano Árabe oferecem auto-avaliações valiosas.
 
Como Representante Comercial dos Estados Unidos, trabalhei em estreita colaboração com líderes de Maghreb até o Golfo que estavam abrindo suas economias e sociedades.  Alguns tinham abundantes recursos energéticos e capital, mas pouca diversidade econômica e capacidade para criar empregos.  Outros procuravam melhorar as escolas, fortalecer a adoção de tecnologia e ampliar o emprego por meio de desregulamentação dos negócios e comércio.  Vários estavam intensificando os vínculos de produção com a Ásia por intermédio de investimentos recíprocos, comércio e desenvolvimento de centros de serviços.
 
Nosso recente relatório Doing Business 2008 (Fazendo Negócios 2008) demonstra que há progresso.  O Egito lidera a lista de economias que estão reformando os regulamentos para facilitar os negócios.  A Arábia Saudita eliminou níveis de burocracia que haviam transformado o país em um dos lugares mais difíceis de se iniciar um negócio e também aboliu as exigências de capital mínimo.
 
São avanços animadores, mas há muito mais a fazer.  Uma globalização inclusiva deve oferecer benefícios para todas as pessoas desses Estados.  À medida que os governos árabes procurarem prestar serviços sociais com eficácia a todas as suas populações, poderemos contribuir com experiência comparativa.  Podemos auxiliar na criação de ambientes propícios aos negócios – locais ou no exterior.  Para alguns, talvez possamos financiar projetos de desenvolvimento, administrar fundos fiduciários de doadores.  Hoje, estamos ajudando a prestar serviços sociais básicos e apoio à boa governança e ao crescimento do setor privado nos territórios palestinos, o que pode proporcionar a base econômica para a esperança, se as partes escolherem o caminho da paz.
 
Finalmente, embora o Grupo Banco Mundial tenha alguns dos atributos de uma empresa financeira e de desenvolvimento, seu objetivo é muito mais amplo.  É uma instituição singular e especial de conhecimento e aprendizado.  Obtém e fornece dados valiosos.  Embora não seja uma universidade – na realidade é um “grupo de peritos” de experiência aplicada que nos ajudará a abordar os cinco outros temas estratégicos.
 
Tal competência requer reconhecimento e sustentação especiais.   Contudo, devemos continuar a nos desafiar com a pergunta:  o que é preciso para alcançar desenvolvimento e crescimento inclusivos e sustentáveis?
 
Esse desafio exige humildade – e honestidade intelectual.  Muitos planos e sonhos de desenvolvimento fracassaram.  Isso não é motivo para deixar de tentar.  É razão para enfocar contínua e rigorosamente os resultados e a avaliação da eficácia.   Esta é a melhor maneira de ganhar a confiança e o apoio de nossos acionistas e grupos interessados, além de clientes e parceiros no desenvolvimento.
 
Estes seis temas estratégicos oferecem uma orientação – a ser discutida, aprimorada e ampliada.  Para divulgar essas idéias, precisamos entender as necessidades específicas de nossos clientes.  O aconselhamento e a orientação de nossos acionistas são bem-vindos.  Há uma grande necessidade – e uma oportunidade imperativa – para o Grupo Banco Mundial neste momento da história.
 
Desafios internos:  boa governança e combate à corrupção

Para ter sucesso, o Grupo Banco Mundial deve também enfrentar diretamente os próprios desafios internos.  Precisamos usar nosso capital com mais eficácia e enfocar mais os serviços aos clientes.  Devemos fortalecer nossos vínculos com as organizações da sociedade civil e ONGs de modo que possamos aprender com elas.  Refletindo a nova “arquitetura da ajuda”, precisamos trabalhar com mais eficácia com programas de ajuda nacionais, recursos financeiros voltados para projetos específicos tais como doenças, fundações, ONGs no campo e empresas privadas interessadas nos desafios do desenvolvimento.
 
Precisamos auxiliar o nosso pessoal com melhor desenvolvimento profissional e aumentar a mobilidade no âmbito da organização.  Precisamos de políticas de recursos humanos mais robustas para apoiar nosso pessoal de campo à medida que encorajamos maior descentralização.  E necessitamos de maior voz e representação em nossa Diretoria Executiva e diversidade em nossa força de trabalho.
 
Como ressaltou um recente relatório de um competente painel liderado por Paul Volcker, ex-Presidente do Conselho Administrativo da Reserva Federal, também temos muito a fazer no fortalecimento de nossa abordagem para lidar com a governança e a corrupção.  O painel proporcionou-nos um amplo conjunto de recomendações a serem levadas em conta para reforçar o trabalho de nossos investigadores internos e garantir que o produto do seu trabalho seja utilizado da melhor forma.  Estamos acompanhando com rapidez, recebendo com satisfação as opiniões de outras pessoas, discutindo idéias com nossa Diretoria Executiva e avançando no aprimoramento de nossas operações.
 
Minha experiência tem demonstrado que o pessoal do Grupo Banco Mundial reconhece o quanto é crítica a agenda da governança e o combate à corrupção.  Orgulha-se da missão de desenvolvimento que desempenha, quer manter a integridade de sua instituição e sabe que a corrupção rouba principalmente dos pobres e mais frágeis.  Juntos podemos conseguir um melhor desempenho.
 
O Grupo Banco Mundial também pode oferecer liderança mediante a integração das políticas de boa governança e regime de direito à agenda do desenvolvimento.  No mês passado nós nos unimos à ONU para lançar a Iniciativa de Recuperação de Ativos Roubados – ou StAR – para fazer que os países desenvolvidos e em desenvolvimento trabalhem juntos na recuperação da pilhagem financeira da corrupção.  Nosso bem-sucedido relatório Doing Business deixa claro que as frágeis políticas normativas e de licenciamento não apenas reprimem os empresários, mas também criam oportunidades para o suborno.
 
Conclusão:  duas vozes

Hoje, sugeri um senso de orientação para o Grupo Banco Mundial.  Para realmente entendermos o que somos, permitam-me encerrar com as vozes de duas outras pessoas.
 
Deramma é uma mulher que pertence a um grupo de auto-ajuda de uma aldeia no estado indiano de Andhra Pradesh.  Ela é uma das mais de 8 milhões de mulheres que, com o apoio do Banco Mundial, criaram grupos de auto-ajuda para reunir recursos.  Esta forma mais rudimentar de intermediação e serviços de apoio aumentou a renda de quase 90%  dos domicílios rurais – aproximadamente 40 milhões de pessoas.  Deramma nos disse: “Era uma vida precária.  Mas agora somos autoconfiantes e podemos educar nossos filhos.  Agora acreditamos que podemos sair da pobreza.”
 
Dinalva Moura, mãe de três filhos, participa do programa Bolsa Família do Brasil, que oferece pequenas somas de dinheiro aos pais de 11 milhões de famílias que mantêm os filhos na escola e os levam a exames regulares de saúde.  O Grupo Banco Mundial ofereceu assistência técnica e financeira para apoiar essa impressionante iniciativa do Governo brasileiro.  Dinalva disse-nos: “O Bolsa Família me ajuda a comprar comida – às vezes até frutas para as crianças.  E elas não deixam de ir à escola, porque sabem que o dinheiro depende da sua freqüência.
 
Estes são depoimentos que nos relatam a história dos nossos esforços diários para criar novas possibilidades para os pobres.  E estas são as vozes que ecoam a necessidade premente de um Grupo Banco Mundial dinâmico que as vincule a outras pessoas, a idéias e a oportunidades.  Isso é globalização inclusiva e sustentável.
 


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