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REPORTAGEM 25 de outubro de 2017

No Tocantins, o turismo é aliado do desenvolvimento sustentável

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Guias e turistas na Cachoeira da Formiga

Juliana Braga/Banco Mundial


Programa do Banco Mundial, que beneficia 300 mil pessoas em todo o estado, permitiu ao setor organizar uma série de medidas para receber melhor os viajantes

O Tocantins cairá em breve no gosto popular. O estado e suas belezas naturais, como o Parque Estadual do Jalapão, são pano de fundo para a novela O Outro Lado do Paraíso, da Rede Globo. Para além de seus encantos, o mais jovem estado brasileiro, criado com a promulgação da Constituição em 1988, tem investido recursos e esforços para oferecer melhores serviços à população e também aos turistas, que devem se multiplicar com a estreia do novo folhetim.

Em parceria com o Banco Mundial, por meio do projeto Desenvolvimento Regional Sustentável Integrado do Tocantins, o governo do Estado tem promovido diversas ações com o intuito de estimular o desenvolvimento local e estadual, em setores como transportes, agricultura, pecuária, educação e turismo. Ao todo, o programa beneficiará mais de 300 mil pessoas, distribuídas em 72 municípios, incluindo 13 mil indígenas e 7,5 mil quilombolas.

Se a ficção de fato fizer do turismo a principal porta de entrada para o estado, posto ocupado até então pelos agronegócios, não pegará despreparados os trabalhadores do setor. O projeto deu origem a um conjunto de medidas para receber melhor o turista, facilitar a atividade das agências operadoras, mapear riscos e também oportunidades no setor.  

O primeiro grande passo dessa estratégia é a criação do Observatório do Turismo, que permitirá contabilizar o número de visitantes recebidos pelo estado, e analisar os serviços prestados, gerando assim uma rede de informação que permitirá que agências de turismo e rede hoteleira tenham dados concretos para promover a melhoria de seus serviços.

“Hoje, as pesquisas sobre a qualidade do serviço turístico são feitas de maneira irregular, contando muito com a ajuda dos guias”, explica Mauricio Fregonesi, diretor da Unidade de Gerenciamento de Projetos do Estado do Tocantins. “Vamos implementar pontos fixos de pesquisa nas principais atrações turísticas, hotéis e outros locais públicos, permitindo que o visitante dê sua opinião com facilidade e quando melhor lhe convier.”

Uma vez compilados os dados, os profissionais do observatório realizarão análises regulares, cujos resultados serão apresentados às empresas turísticas e à rede hoteleira em seminários ou capacitações. Para os que não puderem comparecer aos encontros, a Secretaria de Turismo está desenvolvendo um aplicativo, que servirá de repositório de informações sobre o setor, trazendo desde a lista de hotéis até as análises qualitativas dos dados. “A ideia é difundir o máximo de dados para que as empresas identifiquem onde é possível melhorar e onde há oportunidades de aumento de ofertas de serviços”, diz Fregonesi.

Destino número um do estado, o Parque Estadual do Jalapão recebeu melhorias na estrutura de seu entorno – como a reforma de praças – e capacitação para a população local que trabalha com turismo. Outro local que vem passando por mudanças é o Parque Estadual do Cantão, uma área de cerca de 90 mil hectares que reúne três diferentes biomas: cerrado, floresta amazônica e pantanal. Nele, o projeto está ajudando a construir uma trilha de arvorismo e uma tirolesa.


"O turismo não é quilombola, mas é o quilombola quem preserva as belezas da região, que cuida dessa natureza"
José Ribamar Félix
Chefe da base comunitária dos quilombolas

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Dunas do Jalapão

Juliana Braga/Banco Mundial


O estado, no entanto, quer ir além do turismo de aventura. Para tanto, a Secretaria de Turismo está investindo no turismo de observação de aves, um filão que tem público específico e, em geral, de maior poder aquisitivo. “Já temos catalogada a lista de aves que fazem parte de nossa fauna. A ideia é produzir mapas de localização e capacitar guias para podermos oferecer pacotes aos interessados”, explica Fregonesi. 

Outro filão a ser explorado é a pesca esportiva. Banhado pelo Rio Tocantins e com vários lagos de fácil acesso, o estado recebe hoje cerca de 100 turistas por ano, grande parte interessada no tucunaré-azul, espécie nativa da Bacia Tocantins-Araguaia. Hoje, a pesca ocorre de maneira irregular e com pouco investimento na preservação das espécies. A Secretaria de Turismo está organizando um guia sobre a prática que permitirá que a atividade continue a ser realizada, mas de maneira a não provocar um desequilíbrio no meio ambiente.

Como parte dessa estratégia de multiplicação de serviços, o governo também está dando apoio ao desenvolvimento do turismo nas comunidades quilombolas, onde vive a população descendente de ex-escravos. Ao todo, quatro quilombos –  Mumbuca, Prata (no município de São Félix), Boa Esperança (em Mateiros) e Barra do Aroeira – receberão apoio para aprimorar suas instalações e capacitação para receber visitantes.

“O turismo não é quilombola, mas é o quilombola quem preserva as belezas da região, que cuida dessa natureza. Sem ele, as monoculturas já teriam tomado o local, por exemplo”, afirma José Ribamar Félix, chefe da base comunitária dos quilombolas. “Hoje, os quilombos recebem os turistas apenas de passagem, mas a ideia é que possamos ter mais visitantes hospedados neles, que poderão conhecer a culinária, a música e as danças típicas dessa população.”

Além da tradicional Festa do Capim Dourado, realizada em setembro, as comunidades querem compartilhar suas histórias, cantigas e danças. “No projeto, nós estamos muito focados nesse resgate cultural, uma vez que hoje toda essa tradição está concentrada nas mãos das pessoas mais antigas da comunidade”, conta Félix.

“Na Boa Esperança, por exemplo, ainda se canta os Santos Reis, tocam-se tambores e o pandeirinho quilombola, de uma forma bela. Lá também ainda se faz o que chamamos de Ronda, onde um grupo vai de casa em casa no quilombo tocando tambores”.

A culinária é outro ponto alto no circuito quilombola. “Na região se produz rapadura, farinha de mandioca e em algumas comunidades, como o Mumbuca, é possível fazer uma refeição tipicamente quilombola”, conta o líder comunitário.  Um prato cheio para todos os gostos turísticos.  



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