OPINIÃO

Das aspirações à ação na educação das meninas

6 de novembro de 2015


MALALA YOUSAFZAI / JIM YONG KIM

As jovens que estudam têm menos filhos. Tendem a ganhar mais, e eles têm maior probabilidade de serem saudáveis

 

Vocês vão se perguntar o que uma estudante de 18 anos e o presidente da maior organização internacional de desenvolvimento do mundo têm em comum. Um de nós tem uma expressão favorita em coreano (Yeolsimhi gongbu hay), que significa “estudar com o coração ardente”. A outra estimula as meninas do mundo inteiro a “incendiarem suas palavras” e darem voz ao direito à educação.

Temos em comum grandes aspirações em relação à educação das meninas, pois se trata de uma das maneiras mais seguras de garantir a igualdade de direitos e o fim da pobreza extrema. Também partilhamos a convicção de que a consecução de metas ambiciosas requer ação.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) aprovados pela ONU em setembro são um bom começo. O Objetivo 4 afirma que todas as meninas e meninos devem concluir os ensinos primário e secundário gratuitamente, com qualidade e de forma equitativa até 2030. Este é um grande avanço em relação ao objetivo global anterior, que tratava da educação primária universal; porém, os compromissos são inúteis se não forem cumpridos.

Mais de um milhão de pessoas assinaram uma petição para a Aliança Global pela Educação no site Change.org, apoiando o direito de cada criança a 12 anos de educação primária e secundária gratuita, de qualidade e segura. Esta semana, milhares de pessoas assistirão a um novo documentário, “He Named me Malala”, que visa a aumentar a conscientização sobre os milhões de crianças às quais é negado o direito de aprender. Em muitas partes do mundo, as meninas ainda não conseguem frequentar a escola com os seus irmãos, evitar o matrimônio durante a infância ou escapar da violência ou do assédio se quiserem estudar.

Existem 32 milhões de meninas com idade para cursar o ensino secundário que não frequentam a escola. Apesar do enorme progresso no acesso à educação na América Latina e Caribe nas últimas décadas, um em cada três jovens da região ainda não consegue chegar ao fim do ensino secundário. Entre os que conseguem, 45% não se formam.

No entanto, quando as meninas recebem uma boa educação secundária, elas ganham autoconfiança e habilidades que podem vir a ter um impacto dramático na sociedade. A educação das meninas transforma países e gerações.

As jovens que estudam têm menos filhos e a gravidez ocorre mais tarde. Tendem a ganhar mais e seus filhos têm maior probabilidade de serem saudáveis e frequentarem a escola.

Como um de nós (Malala) gosta de afirmar, “se dizemos que as meninas contam, então precisamos contar as meninas”. No jargão do Banco Mundial, isso significa coletar dados desagregados. Devemos acompanhar e medir o progresso individual das meninas ao longo de sua trajetória escolar até o 12ª ano de escola, para que os governos possam planejar e responder adequadamente às suas necessidades.

Como podemos acelerar o progresso? As organizações internacionais como o Grupo Banco Mundial podem aportar conhecimentos, financiamento e apoio técnico. As organizações não governamentais, incluindo o Fundo Malala, podem ajudar a financiar as escolas — estimulando os governos e doadores a irem além — e apoiar as meninas para que elas promovam esta causa em seus respectivos países. A liderança principal deve vir dos governos, que precisam investir mais e melhorar o funcionamento dos sistemas públicos de ensino para oferecer uma educação de qualidade a todos os alunos, de modo que as meninas mais pobres tenham as mesmas oportunidades que as meninas em áreas mais abastadas.

Queremos garantir que a perspectiva de concluir o ensino primário e secundário se torne uma aspiração natural de todas as crianças — independentemente da nacionalidade. Vamos fazer o que for preciso, com as nossas palavras e os nossos corações ardentes.

Malala Yousafzai é a vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2014 e co-fundadora do Fundo Malala. Jim Yong Kim é presidente do Grupo Banco Mundial

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