Nos anos 1950, quando a televisão surgiu no Brasil e o aparelho ainda era uma exclusividade da elite, uma gíria ficou muito popular: “televizinho”. Ela designa aquele vizinho que visita o dono da TV para acompanhar a programação.
A expressão ganhou novo significado depois de um projeto da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) com quase 100 famílias de três bairros pobres de João Pessoa, Brasil. As universidades federais da Paraíba (UFPB) e de Santa Catarina (UFSC), bem como a Católica de Brasília (UCB), também participaram da iniciativa.
Nessas casas, onde a renda média é de R$ 300 por mês, foram instalados equipamentos de recepção do sinal de TV digital. Com eles, as famílias puderam ver programas interativos que as ensinavam a tirar documentos (carteiras de identidade e trabalho, por exemplo); permitiam-lhes obter informações sobre empregos, cursos e Bolsa Família; e mostravam como cuidar melhor da saúde e das finanças.
O projeto Brasil 4D (democracia, diversidade, desenvolvimento e digital) e seus resultados foram mostrados em Brasília no IV Fórum Internacional de Mídias Públicas, organizado pelo Banco Mundial e pela EBC. O evento discutiu o desafio de criar conteúdos de qualidade para a TV digital na América Latina.
Vantagem econômica
Um estudo feito pelo Banco mostrou: 83% dos participantes que assistiram aos programas interativos sentiram as vantagens no bolso. A principal, citada por 64% desses beneficiados, foi economizar dinheiro na hora de obter acesso a serviços públicos.
“Chamei uma vizinha, de 68 anos, para assistir à TV comigo e ela se interessou”, lembra Marta Gomes, nova fã da programação sobre saúde. “Ela não recebia nenhum benefício do governo porque não sabia que tinha esse direito. E correu para se inscrever quando viu na tela uma senhora participando dos programas sociais.”
“A TV tem um guia que ensina como interagir, é muito fácil”, conta Josias Job Mariano, 27 anos. “Quando assisti ao canal de empregos, me informei melhor, fiz o currículo e consegui um emprego com carteira assinada.”