REPORTAGEM

TV digital leva cidadania a brasileiros pobres e inspira a América Latina

2 de setembro de 2013


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O projeto Brasil 4D ajuda a promover inclusão digital entre os que não têm acesso a smartphones ou internet.

UFPB/Divulgação.

DESTAQUES DO ARTIGO
  • Projeto de TV digital interativa ajuda moradores da Paraíba a economizar tempo e dinheiro para acessar serviços públicos.
  • A iniciativa já conquistou dois prêmios: um da Sociedade de Engenharia de Televisão (SET) e o Inovação e Criatividade na TV – 2013.
  • O Brasil 4D, mostrado em recente fórum de comunicação pública, servirá de modelo a outras iniciativas da TV pública na América Latina e no mundo.

Nos anos 1950, quando a televisão surgiu no Brasil e o aparelho ainda era uma exclusividade da elite, uma gíria ficou muito popular: “televizinho”. Ela designa aquele vizinho que visita o dono da TV para acompanhar a programação.

A expressão ganhou novo significado depois de um projeto da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) com quase 100 famílias de três bairros pobres de João Pessoa, Brasil. As universidades federais da Paraíba (UFPB) e de Santa Catarina (UFSC), bem como a Católica de Brasília (UCB), também participaram da iniciativa.

Nessas casas, onde a renda média é de R$ 300 por mês, foram instalados equipamentos de recepção do sinal de TV digital. Com eles, as famílias puderam ver programas interativos que as ensinavam a tirar documentos (carteiras de identidade e trabalho, por exemplo); permitiam-lhes obter informações sobre empregos, cursos e Bolsa Família; e mostravam como cuidar melhor da saúde e das finanças.

O projeto Brasil 4D (democracia, diversidade, desenvolvimento e digital) e seus resultados foram mostrados em Brasília no IV Fórum Internacional de Mídias Públicas, organizado pelo Banco Mundial e pela EBC. O evento discutiu o desafio de criar conteúdos de qualidade para a TV digital na América Latina.

Vantagem econômica

Um estudo feito pelo Banco mostrou: 83% dos participantes que assistiram aos programas interativos sentiram as vantagens no bolso. A principal, citada por 64% desses beneficiados, foi economizar dinheiro na hora de obter acesso a serviços públicos.

“Chamei uma vizinha, de 68 anos, para assistir à TV comigo e ela se interessou”, lembra Marta Gomes, nova fã da programação sobre saúde. “Ela não recebia nenhum benefício do governo porque não sabia que tinha esse direito. E correu para se inscrever quando viu na tela uma senhora participando dos programas sociais.”

“A TV tem um guia que ensina como interagir, é muito fácil”, conta Josias Job Mariano, 27 anos. “Quando assisti ao canal de empregos, me informei melhor, fiz o currículo e consegui um emprego com carteira assinada.”


" O desenvolvimento da TV digital terrestre na região traz a oportunidade única de democratizar a gestão, distribuindo-a entre os mais diversos setores da sociedade "

Sergio Jellinek

gerente de comunicação para a América Latina e o Caribe no Banco Mundial

André Barbosa, diretor de Suporte da EBC, comemora os resultados: “A intenção era provar que o uso interativo da TV digital consiste em uma opção para os brasileiros excluídos do mundo dos tablets e smartphones”.

“O desenvolvimento da televisão digital terrestre na região traz a oportunidade única de democratizar a gestão dessas TVs, distribuindo-a entre os mais diversos setores da sociedade e, dessa forma, forjando um sistema mais equilibrado de meios de comunicação”, avaliou Sergio Jellinek, gerente de comunicação para a América Latina e o Caribe no Banco Mundial.

Plataforma nacional

Esses princípios inspirarão a EBC na criação de uma plataforma digital, de alcance nacional (mas com personagens e sotaques locais), que transmitirá conteúdo interativo de todas as TVs públicas brasileiras.

As dificuldades também serão levadas em conta. Muitas famílias, por exemplo, tiveram medo de estragar os equipamentos – que ficaram instalados durante três meses – e de receber uma conta de luz mais alta. Outras temeram perder o benefício do Bolsa Família simplesmente por consultar (ou não) as informações relativas a cursos e empregos.

O estudo de impacto ainda destaca a necessidade de incluir outros serviços (o da Caixa, por exemplo) e atrações educativas na programação.

O projeto Brasil 4D recebeu dois prêmios. Recentemente, ganhou o troféu da Sociedade de Engenharia de Televisão (SET, em Português). Ele também recebeu uma menção honrosa no Inovação e Criatividade 2013, em Nova York.

Nesse último, os jurados foram:

  •  David Poltrack, chefe de pesquisa da rede CBS (EUA);
  •  Eduardo Olano, da Atres Advertising (Espanha);
  •  Roberto Franco, presidente do Fórum Brasileiro de TV Digital e diretor do SBT;
  •  Marcello Cuneo, presidente da ATV (Peru);
  •  Antonio José Gomez, vice-presidente comercial da RCN (Colômbia);
  •  Carlos Coello, presidente da TC Televisión (Equador);
  •  Ernesto Monasterio, da Unitel (Bolívia);
  •  Lorena Sanchez, da Medcom (Panamá).

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