REPORTAGEM

Exportações do Brasil precisam de mais competitividade e investimentos

18 de janeiro de 2013


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A soja está entre os principais produtos brasileiros de exportação.

Roosewelt Pinheiro/ABr.

DESTAQUES DO ARTIGO
  • Entre 2000 e 2010, Brasil exportou quase duas vezes mais do que a média global. Ainda assim, falta competitividade ao comércio exterior do país, segundo um novo estudo.
  • O relatório também mostra que, no mesmo período, os produtos de alta tecnologia perderam espaço na pauta de exportações brasileiras.
  • A produtividade e o comércio exterior no país podem melhorar com mais investimentos em portos, aeroportos, estradas, maquinário e software.

Imagine uma tonelada de soja saindo dos campos de Mato Grosso do Sul em direção aos portos de Santos ou Paranaguá, a pelo menos 1.200km de distância. Quando o produto – um dos mais importantes da pauta de exportações brasileiras – chegar ao destino, terá perdido uma boa parte de seu valor.

“Levar a soja por terra demora e sai caro, cerca de US$ 120 por tonelada. Agora, quando se exporta por via marítima, o custo é três vezes menor”, explica José Augusto de Castro, presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), que atualmente representa 250 empresas. “Hoje, os produtores brasileiros conseguem administrar esse custo, mas é difícil dizer quanto tempo mais eles aguentam.”

O exemplo de Castro resume alguns dos maiores problemas encontrados pelos exportadores brasileiros. Essas questões são discutidas no novo estudo Exportações brasileiras: descendo o abismo da competitividade (i), que analisa detalhadamente estatísticas dos últimos 15 anos. O trabalho foi feito pelos economistas brasileiros Otaviano Canuto, José Guilherme Reis e Matheus Cavallari, do Banco Mundial.

“A principal mensagem é que, embora o Brasil tenha exportado quase o dobro da média global entre 2000 e 2010, as exportações do país ainda precisam de competitividade”, explica Canuto, vice-presidente da Rede de Redução da Pobreza e Gerenciamento Econômico (PREM, na sigla em inglês).

Perdendo espaço

“O Brasil se beneficiou da alta procura global por commodities, como minerais (que responderam pela maior parte das exportações, 25,2%) e alimentos. Mas, se não fosse por isso, o país não teria ido tão bem”, acrescenta.  

Comparados com os números da China, Rússia, Índia e África do Sul, os do Brasil chegam a parecer tímidos. Em média, as exportações desses países emergentes cresceram 439% no mesmo período. “Para ganhar competitividade, o Brasil precisa investir mais em educação – o que melhoraria a nossa força de trabalho – infraestrutura e logística”, diz Matheus Cavallari. 

Além de melhorar portos, aeroportos e estradas, a indústria brasileira precisa de investimentos em maquinário e software. E, ainda, de ações (como a reforma tributária) capazes de diminuir burocracia e custos. No Brasil, os cofres públicos recebem um valor equivalente a 35% do que o país produz (PIB).


" O Brasil se beneficiou da alta procura global por commodities, como minerais e alimentos. Mas, se não fosse por isso, o país não teria ido tão bem.  "

Otaviano Canuto

Vice-presidente da Rede de Redução da Pobreza e Gerenciamento Econômico, Banco Mundial

Pesquisa e inovação

O estudo mostra uma redução no percentual de exportações de alta tecnologia: de 10.4% para 5% no mesmo período de 10 anos. Também nisso o Brasil foi ultrapassado por outros países emergentes. “Em 2000, o país exportava três vezes mais itens de alta tecnologia do que a Índia. Hoje, exportamos 80% do total da Índia”, analisa Cavallari.   

“Esse é um dado preocupante porque, nos mercados de commodities, o preço e a demanda são estabelecidos pelo comprador. Já nos de alta tecnologia, isso é definido por quem vende”, comenta José Augusto de Castro, da AEB.

“As exportações de alta tecnologia incluem não só equipamento, mas também design, e para aumentá-las é necessário investir mais em pesquisa e inovação”, resume Castro. “Sempre se fala na Embraer como um bom exemplo brasileiro, mas ainda precisamos de mais mil empresas como ela.”


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