REPORTAGEM

Em Moçambique, regadios devolvem vida e esperança a pequenos agricultores

29 de março de 2017


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Sistemas de irrigacao restauram vida e esperanca das mulheres no povoado de Kufa Ndaedza no distrito de Bárue, Manica. 

Foto Gustavo Mahoque, World Bank

DESTAQUES DO ARTIGO
  • Banco Mundial investe $70 milhões para ajudar pequenos agricultores a cultivar e vender arroz e hortícolas através da reabilitação e expansão de regadios nas províncias centrais de Manica, Sofala e Zambézia.
  • Mais de 6.000 pessoas beneficiaram diretamente da operação conhecida como Projeto de Desenvolvimento de Irrigação Sustentável (PROIRRI).
  • Na sua conclusão, espera-se que o projeto assegure a irrigação de um total de 3.000 hectares, dos quais 1.700 para arroz, 800 para horticultura e 500 para produção sob contrato.

MAPUTO, 29 de Março de 2017–O milho e o arroz ocupam um lugar especial na vida de muitos moçambicanos. Enquanto alimento básico, muitos residentes rurais têm nestes cereais, uma fonte diária de nutrientes assim como de renda. No entanto, as secas prolongadas dos últimos anos, associadas aos sistemas de irrigação inexistentes ou deficientes, salinização dos solos, assim como custos crescentes de produção, tem sido um entrave na produção para muitos pequenos agricultores, incluindo na sua maioria mulheres.

Os desenvolvimentos recentes dão a alguns agricultores do centro de Moçambique boas razões para optimismo. Há mais de cinco anos, o Banco Mundial está a financiar o Projeto de Desenvolvimento de Irrigação Sustentável (PROIRRI) do Governo de Moçambique, no valor de $70 milhões. O Projecto recebeu um financiamento complementar no valor de $5.7 milhões do governo de Moçambique e um donativo do governo Japonês na ordem de $14.2 milhões, perfazendo um total de $90 milhões de financiamento. O objectivo do projecto é precisamente aumentar a produção agrícola e melhorar o nível de produtividade dos agricultores nos novos e melhorados sistemas de regadios nas províncias de Sofala, Manica e Zambézia. 


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Isac Queface, exibindo a sua produção de baby-corn altamente comercializável da sua machamba no Campo4, no Distrito de Vanduzi

Foto Gustavo Mahoque, Banco Mundial

Testemunhos de vidas melhoradas e esperança restaurada

Graças às melhorias financiadas pelo projeto nos sistemas de irrigação no distrito rural de Vanduzi, Província de Manica, os pequenos agricultores locais estão agora a cultivar milho e hortícolas em terras irrigadas. Antes dos investimentos do projeto, a coleta de água era defeituosa e mal podia cobrir suas necessidades, o que levou alguns a abandonar completamente a agricultura, migrar para as cidades ou outros lugares mais distantes.

Quando se tem irrigação, tem-se controle sobre a água e não o contrário - a água não pode tomar controle das pessoas”, enfatizou Isac Queface, presidente da associação de agricultores locais no que é conhecido como Camp-4. “Hoje, as pessoas da nossa comunidade consideram o cultivo de Baby-corn e piri-piri como seu novo futuro dado as suas características altamente comercializáveis, acrescentou. Nós, agora vivemos da nossa produção. Consegui construir a minha casa de tijolos com quatro compartimentos. Falta apenas a cobertura, o que deve acontecer nos próximos meses, concluiu ele exibindo uma amostra da produção de baby-corn da sua área de produção.

Com as intervenções do PROIRRI, a área de irrigação nos campos de Vanduzi foi ampliada. Canais recém-construídos com água que fluem por gravidade ao longo dos campos, cobrem hoje vinte vezes mais a área inicialmente irrigada. Só na província de Manica, o projeto construiu e equipou onze desses regadios, cobrindo uma área total de mais de 1.500 hectares, que são usados principalmente para a produção de vegetais e cereais.

Como em Vanduzi, Sussundenga é outro distrito agora a prosperar graças aos novos regadios. Zabeta Jone, uma agricultora de 51 anos de idade, que juntamente com o seu marido é membro da associação de agricultores Kufa Ndaedza, lembra o quão difícil era a vida antes da intervenção do PROIRRI. Ela vivia a 7,5 km do vale onde tinha o seu pequeno campo agrícola. Para lá chegar, lembra ela, era preciso contornar uma montanha e atravessar uma área infestada de serpentes. Na altura, pequenos agricultores como ela usavam um método de irrigação rudimentar que não podia fornecer água suficiente para o pequeno lote de terra da família. Foram tempos muito difíceis, diz ela. A semelhança de muitos agricultores que beneficiaram dos investimentos no âmbito do projeto, o futuro dela parece mais brilhante.

Com o projecto, o vale irrigado foi consideravelmente alargado e como resultado disso, nós conseguimos mais três lotes de terra, disse ela. Toda a comunidade aqui beneficiou-se com isso. Na parte mais alta do vale como podem ver, nasceu uma nova aldeia e nós mudamo-nos imediatamente para lá. Com as receitas da produção, construímos a nossa casa com tijolo queimado, mandamos o nosso filho mais velho para a uma universidade na Cidade de Chimoio, pagamos carta de condução para um outro, e mandamos os mais novos para escola” – acrescentou radiante Zabeta Jone com o seu marido que orgulhosamente também ostentava a sua nova motorizada.

Nas províncias vizinhas de Sofala e Zambézia, o foco do PROIRRI é a produção de arroz, uma cultura prioritária na agenda do governo. Os distritos de Buzi, Mopeia e Morrumbala são alguns dos maiores beneficiários nessas províncias do ‘Donativo Comparticipado’ do programa PROIRRI. O mecanismo custeia 70% de aquisição de um kit de produção para uma área standard de cerca de 0.2 hectares, composto por sementes, adubos e pesticidas. O remanescente de 30%, é coberto pelos próprios agricultores. Do mesmo modo, o esquema co-financia 85% do custo total para a aquisição de equipamentos para tração animal, bem como máquinas de agro processamento.

Em suma, nas províncias acima mencionadas, espera-se que o projeto assegure a irrigação de um total de 3.000 hectares, dos quais 1.700 para arroz, 800 para horticultura e 500 para produção contratada. Até agora mais de 6.000 pessoas beneficiaram-se directamente do projecto nas três províncias onde é implementado.

Moçambique possui mais de 30 milhões de hectares de terra potencialmente arável ​​com significativa diversidade agro-ecológica. O Governo de Moçambique, assumiu o desenvolvimento da irrigação como uma das suas prioridades para o crescimento da agricultura e desenvolvimento rural. Para o efeito, adotou uma nova Estratégia Nacional de Irrigação cuja implementação se materializou com intervenções como as do PROIRRI. Em Moçambique, três das quinze bacias hidrogeológicas destacadas pela Estratégia de Irrigação (Buzi, Pungoé e Zambezi), são cobertas pela área de intervenção do PROIRRI. No âmbito do projeto, o Instituto Nacional de Irrigação (INIR), beneficiou de um desenvolvimento e capacitação institucional para responder ao seu mandato político, estratégico e operacional. As capacidades do INIR para implementar suas políticas também foram reforçadas. O projecto também apoiou a preparação da legislação para Associação de Regantes e do Plano Nacional de Irrigação, ambos, aprovados pelo Conselho de Ministros e Abril de 2015 e em Dezembro de 2016 respetivamente.


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