PRAIA, 26 de JULHO, 2022 - O crescimento de Cabo Verde antes da COVID-19 foi impulsionado por um sector turístico próspero, beneficiando de profundas reformas estruturais, incluindo no sector das empresas públicas, contenção fiscal e redução da dívida. Com a crise da COVID-19, o Produto Interno Bruto (PIB) contraiu 14,8% em 2020, a segunda maior redução na África Subsaariana. Como resultado, os riscos fiscais foram exacerbados e a dívida pública aumentou de 124 por cento do PIB em 2019 para 155 por cento em 2020.
O Cabo Verde Economic Update 2022, publicado pelo Banco Mundial e intitulado "Potenciais Dividendos Digitais de Cabo Verde", afirma que, embora o PIB real tenha aumentado 7% em 2021, a recuperação pós-COVID do país está agora ameaçada pelo impacto global do conflito na Ucrânia, que está a aumentar significativamente os preços do petróleo e dos alimentos.
"A pandemia da COVID-19 e o impacto da guerra da Ucrânia expôs as vulnerabilidades da economia cabo-verdiana a choques externos. É importante que o país conduza reformas estruturais a médio prazo, promovendo o consumo privado e o investimento na economia digital, economia azul e energias renováveis, para ajudar a fechar o hiato do PIB e apoiar a recuperação económica", disse Eneida Fernandes, Representante Residente do Banco Mundial.
O Relatório também discute vulnerabilidades fiscais e da dívida, que permaneceram elevadas em 2021 devido à necessidade de cobrir as necessidades financeiras fiscais decorrentes dos efeitos persistentes da pandemia. Estas vulnerabilidades fiscais podem minar os esforços de Cabo Verde para restaurar a sustentabilidade fiscal e fazer retornar, a médio-prazo, a dívida (como parte do PIB) a uma trajectória decrescente.
"Uma consolidação fiscal gradual, deixando espaço adequado para despesas sociais e investimento público, é primordial para restaurar a sustentabilidade da dívida e apoiar o crescimento. A consolidação fiscal deve concentrar-se principalmente no aumento da eficiência da gestão das receitas e da dívida e em reformas estruturais fundamentais, particularmente no sector das empresas públicas, para melhorar a prestação de serviços de apoio ao crescimento e estabelecer um campo de acção mais nivelado para os investidores. Além disso, a redução da exposição a riscos fiscais através de um melhor controlo e gestão destes riscos e de uma maior transparência da carteira da dívida são fundamentais para assegurar a sustentabilidade fiscal", disse Rosa Brito Delgado, economista do Banco Mundial e principal autora do relatório.
O relatório observa ainda que as tecnologias digitais se tornaram uma parte intrínseca do crescimento sustentável em todo o mundo. A COVID-19 causou perturbações em quase todos os aspectos da vida socioeconómica e as tecnologias digitais ganharam uma importância acrescida, não só nos planos de recuperação económica a curto-prazo, mas também nas estratégias de longo-prazo de construção de resiliência. A crise imposta pela pandemia sublinhou ainda mais o papel das TIC no aumento da produtividade e da resiliência da economia de Cabo Verde. Numa secção especial sobre os principais desafios para transformar Cabo Verde num Hub Digital, o Relatório destaca quatro prioridades políticas fundamentais em torno da agenda nacional de transformação digital para apoiar o crescimento a longo-prazo.
"Com intervenções atempadas e investimentos estratégicos a nível do desenvolvimento digital, Cabo Verde tem um sólido potencial para construir bases fortes para a sua transformação digital, apoiando um crescimento a longo-prazo, sustentável e inclusivo. Se materializados, os dividendos digitais do país poderão significar a melhoria da governação e da prestação de serviços públicos, a criação de novas fontes de rendimento, empregos e diversificação económica, e o desenvolvimento de mão-de-obra competitiva para a economia futura", disse Camila Mejia Giraldo, Especialista Sénior em Desenvolvimento Digital do Banco Mundial.
