Os retrocessos de desenvolvimento aumentam, e a frequência dos conflitos atinge seu nível mais alto nos últimos 25 anos
WASHINGTON, 27 de junho de 2025 — Conflitos e instabilidade têm causado um impacto devastador nas 39 economias afetadas por esses fenômenos, aumentando a pobreza extrema num ritmo mais acelerado que em qualquer outro país. Além disso, intensificam a fome aguda e dificultam ainda mais o cumprimento de diversas metas de desenvolvimento de extrema importância. Isso é o que constata a primeira avaliação abrangente do Banco Mundial sobre as provações enfrentadas por esses países após a Covid-19.
Os conflitos se tornaram mais frequentes e fatais na década de 2020, e essas economias estão ficando para trás em vários indicadores-chave de desenvolvimento, segundo a análise. Desde 2020, o PIB per capita diminuiu, em média, 1,8% ao ano, ao passo que, nas outras economias em desenvolvimento, o PIB cresceu 2,9%. Este ano, 421 milhões de pessoas estão lutando para viver com menos de US$3 por dia em economias afetadas por conflitos ou instabilidade — mais que em todos os outros países juntos. A projeção é que, até 2030, esse número atinja 435 milhões, o que equivale a quase 60% da população em situação de pobreza extrema no mundo todo.
“Nos últimos três anos, a atenção de todos tem se voltado aos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio, e esse foco intensificou-se agora”, disse Indermit Gill, economista-chefe do Grupo Banco Mundial. “No entanto, mais de 70% das pessoas que sofrem com conflitos e instabilidade são africanas. Se essas condições não forem tratadas, elas se tornarão crônicas. Metade dos países que atualmente enfrentam conflitos ou instabilidade vive nessas condições há 15 anos ou mais. A miséria em tal escala é inevitavelmente contagiosa.”
O novo estudo destaca o porquê de a meta global de eliminação da pobreza extrema ter permanecido inatingível até agora. Atualmente, observa-se uma concentração da pobreza extrema em áreas e regiões onde é mais difícil alcançar o progresso. Das 39 economias que vivenciam, atualmente, situações de conflito ou instabilidade, 21 enfrentam conflitos ativos.
Nas economias em desenvolvimento em geral, a taxa de pobreza extrema foi reduzida para um dígito — apenas 6%. No entanto, nas economias que enfrentam conflitos ou instabilidade, a taxa é de quase 40%. Os níveis de PIB per capita desses países (atualmente em torno de US$ 1.500 por ano) são praticamente os mesmos desde 2010, apesar de esse indicador ter mais que dobrado nas outras economias em desenvolvimento, chegando a uma média de US$ 6.900. Além disso, diferentemente de outras economias em desenvolvimento, as economias que enfrentam conflitos ou instabilidade não conseguiram, em média, gerar empregos suficientes para acompanhar o crescimento populacional. Em 2022, o último ano para o qual há dados disponíveis, mais de 270 milhões de pessoas estavam em idade ativa nessas economias, mas apenas metade estava empregada.
“A estagnação econômica — e não o crescimento — tem sido a norma nas economias atingidas por conflitos e instabilidade ao longo da última década e meia”, disse M. Ayhan Kose, economista-chefe adjunto do Grupo Banco Mundial e diretor do Grupo de Perspectivas. “A comunidade global deve prestar mais atenção à situação desses países. Embora não seja fácil estimular o crescimento e o desenvolvimento nessas economias, isso é possível — e já foi feito antes. Com políticas direcionadas e maior apoio internacional, os formuladores de políticas públicas podem prevenir conflitos, fortalecer a governança, acelerar o crescimento e gerar empregos.”
A frequência e a letalidade dos conflitos mais que triplicaram desde o início dos anos 2000 (tomando como base períodos de cinco anos). Os impactos são evidentes em todo o espectro de indicadores de desenvolvimento. A expectativa média de vida nas economias que sofrem com conflitos ou instabilidade é de 64 anos — sete anos abaixo da de outras economias em desenvolvimento. As taxas de mortalidade infantil são mais que o dobro onde há conflitos ou instabilidade. A insegurança alimentar aguda atinge 18% da população — 18 vezes a média de outras economias em desenvolvimento. Noventa por cento das crianças em idade escolar não atingem níveis mínimos de leitura.
Uma vez iniciados, os conflitos tendem a ser persistentes — e seus efeitos econômicos são graves e duradouros, revela a pesquisa. Das economias que atualmente enfrentam conflitos ou instabilidade, metade vive nessas condições há 15 anos ou mais. Conflitos de alta intensidade — aqueles que matam mais de 150 pessoas em cada 1 milhão de habitantes — normalmente são seguidos por uma queda cumulativa de cerca de 20% no PIB per capita após cinco anos.
Nessas circunstâncias, os esforços para prevenir conflitos podem render altos retornos, diz o relatório. Ele observa que “os sistemas de alerta precoce de conflitos — especialmente aqueles que detectam mudanças nos riscos em tempo real — podem viabilizar intervenções oportunas, que são muito mais econômicas que respostas posteriores à violência.” A prevenção de conflitos também significa a redução das “fragilidades” — isto é, deficiências nas instituições governamentais que limitam sua capacidade de impulsionar o progresso econômico sustentado, manter a paz e promover a justiça.
Apesar dos desafios, essas economias apresentam diversas vantagens potenciais que, com as políticas certas, podem ajudar a reacender o crescimento, segundo a análise. Os lucros provenientes dos recursos naturais — minerais, florestas, petróleo, gás e carvão — equivalem, em média, a mais de 13% de seu PIB. Esse índice é três vezes superior ao de outras economias em desenvolvimento. Várias economias — especialmente a República Democrática do Congo, Moçambique e Zimbábue — são ricas em minerais essenciais para tecnologias de energia renovável, como veículos elétricos, turbinas eólicas e painéis solares.
Uma população jovem e crescente constitui outra vantagem de longo prazo. Na maioria das economias avançadas e em desenvolvimento, a população em idade ativa já começou a se estabilizar ou diminuir. Não é o que acontece nas economias afetadas por conflitos ou instabilidade, onde a expectativa é que a população em idade ativa aumente de forma constante durante a maior parte do período em análise: até 2055, quase duas em cada três pessoas estarão em idade ativa, uma parcela maior que em qualquer outro lugar do mundo. No entanto, o sucesso da colheita desse “dividendo demográfico” dependerá do aumento dos investimentos em educação, saúde e infraestrutura, bem como da construção de um setor privado pujante que possa gerar mais e melhores empregos, diz o relatório.
Baixe o relatório completo em: https://www.worldbank.org/en/research/publication/fragile-and-conflict-affected-situations-vulnerabilities
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