REPORTAGEM

Haiti: crianças, famílias - Agendas Prioritárias dois anos após o terremoto

17 de janeiro de 2012

PORTO PRÍNCIPE, 11 de janeiro de 2012 - Joseph Adrien possui um plano simples para progredir: ele quer que seus dois filhos, de sete e dez anos de idade, tenham uma vida melhor que a sua, de trabalhador diarista que luta pelo sustento desde que o terremoto de 12 de janeiro de 2010 o privou dos trabalhos estáveis que a economia haitiana finalmente estava oferecendo antes da tragédia.

Como seus filhos estão indo bem na escola, são bem alimentados e foram poupados das tribulações da família Adrien – parte dos 70% de desempregados do Haiti –, eles têm a chance de estudar e romper o ciclo de pobreza, afirma Joseph.

As duas crianças recebem instrução, materiais escolares e merenda gratuitos como parte dos programas educacionais apoiados pelo Banco Mundial que oferecem esses serviços básicos a mais de 405.000 crianças desde o terremoto, que destruiu centenas de escolas na área de Porto Príncipe. Os projetos do Banco Mundial também reconstruíram escolas, como a escola de ensino fundamental Milome Brillière, onde os irmãos Adrien estudam.

“O Haiti é pobre e tem muitos desempregados, mas sem esse programa seria bem mais pobre porque as crianças não teriam acesso à educação, que é o único instrumento eficaz contra a pobreza”, opina Joseph.

Dois anos após o terremoto, o Haiti está experimenta progressos graduais mas constantes nas áreas mais importantes para sua recuperação: desenvolvimento humano e redes de proteção social, nas formas de crianças saudáveis e instruídas, e de apoio às famílias que perderam suas casas e fontes de renda.

Encabeçam a agenda de reconstrução os programas voltados para educação, moradia, prevenção de desastres e geração de empregos no setor privado.

Quase um milhão de haitianos desalojados já saiu dos acampamentos temporários na capital para retornar às suas casas, atraídos em parte pela perspectiva de melhores condições de segurança estrutural nas moradias.

Um programa mantido por várias agências avaliou a segurança de 400.000 prédios e casas após o terremoto, e as casas em mau estado estão sendo reconstruídas ou reparadas conforme melhores práticas de construção graças a doações do Grupo Banco Mundial. O Programa de Restauração de Bairros e Reconstrução de Habitações beneficiará 300.000 pessoas e ajudará famílias a sair dos acampamentos por meio de uma série de serviços, como subvenções para a reconstrução, reabilitação de comunidades e subsídios ao aluguel.

Fabienne Desmoulins, de 21 anos, e seus oito parentes irão se mudar para uma nova casa em breve graças a esse subsídio. “Será melhor em uma casa porque a chuva que cai nos acampamentos deixa o local lamacento e desagradável”, afirmou.

Ainda há cerca de meio milhão de pessoas vivendo em barracas temporárias enquanto o governo procura moradas permanentes para os desalojados.

Dois anos pode parecer muito tempo para se viver em uma situação de emergência, como é o caso de muitos haitianos desde o devastador terremoto. Porém, especialistas assinalam que, em vários aspectos, o país avançou mais rápido do que vários outros países em situação semelhante. Quase metade dos cerca de 10 milhões de metros cúbicos de escombros do terremoto foi retirada das ruas da capital nos últimos dois anos. Em contraste, foram necessários mais de cinco anos para retirar cerca de um décimo dessa quantidade de escombros após o terremoto de 2006 na Indonésia.

E nada é desperdiçado nos esforços de remoção: os entulhos são reciclados e ficam disponíveis para a construção de nova infraestrutura, e proporcionam matérias-primas para a reconstrução aprimorada.

A assistência técnica e financeira continuada em áreas essenciais, como educação e moradia, é de suma importância para os esforços de reconstrução do país. Nesse sentido, a Associação Internacional para o Desenvolvimento (AID) destinou US$ 530 milhões para o Haiti, dos quais US$ 255 milhões correspondem a financiamentos a fundo perdido disponibilizados em 2012, como parte de uma Estratégia Provisória do Grupo Banco Mundial para o Haiti.

“É imprescindível para a recuperação do Haiti no longo prazo que esses avanços sejam mantidos e que o país deixe para trás os efeitos do terremoto e se aproxime de um futuro sustentável,” declarou Alexandre Abrantes, Enviado Especial do Banco Mundial ao Haiti.

Ele observou que a estratégia de 12 meses para o Haiti ajudará a proteger os haitianos contra desastres naturais e melhorar as condições para investimentos privados no país, estimulando a criação de empregos.

Ele cita a E-Power como um exemplo dessas iniciativas privadas. Um empreendimento conjunto entre Coréia e Haiti, a E-Power está impulsionando a reconstrução do país ao aumentar a capacidade energética do Haiti: a empresa multiplicou a produção de eletricidade do país em 35%, ao mesmo tempo oferecendo empregos e capacitação profissional para centenas de técnicos haitianos.

A usina elétrica de última geração, financiada pela IFC, atende a 15% da demanda da área de Porto Príncipe, e oferece abastecimento confiável para empresas e comunidades que antes sofriam com os apagões.

A E-Power utiliza petróleo combustível pesado em vez de óleo diesel, poupando recursos ao governo haitiano, que podem ser canalizados para outros serviços públicos.

“Se produzirmos com a tecnologia certa e trabalharmos direito e de forma competitiva, poderemos baixar o custo da eletricidade para a empresa estatal e ajudar a empresa e o país a economizar recursos financeiros”, afirmou Carl-Auguste Boisson, Diretor-Geral da E-Power.

Os investimentos custeados pela IFC criaram e protegeram mais de 10.000 empregos no Haiti.

À medida que o país se recupera de uma catástrofe, o bom senso diz que se deve estar bem preparado para a possibilidade de outra ocorrência catastrófica que possa colocar os cidadãos do Haiti em perigo e ameaçar as conquistas já alcançadas.

Uma ferramenta poderosa, desenvolvida literalmente a partir das ruínas do país, é um banco de dados para o mapeamento de diversos riscos. Esse banco de dados está sendo usado pelos organismos de desenvolvimento para decidir onde e como construir ou reconstruir escolas, hospitais e casas. De modo semelhante, o Banco Mundial está ajudando os comitês de defesa civil em todo o país a preparar as comunidades para catástrofes, determinar quem está em situação de risco e onde devem buscar abrigo na eventualidade de futuros desastres. Esse sistema foi testado na última temporada de furacões, quando a tempestade Tomas castigou partes do Haiti sem deixar o rastro de mortes e destruição causado por ocorrências anteriores.

E os haitianos sentiram a diferença. “Nosso treinamento contra desastres ajuda a reduzir o impacto sobre a população em áreas de risco, e diminui o possível impacto na comunidade como um todo”, informou Magali Robert Jean-Françoise, voluntária da defesa civil.

 


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