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REPORTAGEM 7 de julho de 2017

Envolvendo comunidades nos seus próprios projetos de desenvolvimento

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Fontes de água protegidas levaram a uma queda nas doenças transmitidas pela água.

Alfa Umaru Jalo / Banco Mundial


DESTAQUES DO ARTIGO

  • Tendo-lhes sido perguntado o que queriam, as comunidades escolheram projetos de acesso a água potável, estradas e escolas;
  • Novas salas de aula permitem que os alunos tenham mais horas de ensino;
  • E melhores estradas significa que homens e mulheres podem transportar mais mangas e castanhas de caju para o mercado.

Este artigo começa como uma história sobre a importância vital das estradas: Como muitas crianças da Guiné-Bissau, Daisy mora um pouco longe da estrada principal. O hospital mais próximo fica a 10 km de distância. Uma vez a Fatinha, sua mãe, teve que a levar numa motorizada de urgência para o hospital após ela ter sido mordida por uma cobra a noite. A história de Daisy— e a vida dela— podia ter terminado tragicamente mas, ao contrário, teve um final feliz: ela recebeu tratamentos da mordedura da cobra venenosa, e tudo graças a uma estrada recentemente reabilitada.

A Guiné-Bissau é um dos países mais pobres e mais frágeis do mundo, com uma população de apenas 1,85 milhões de habitantes. Embora não longe de Bissau, a capital, a maior parte das estradas na região de Biombo, neste caso Pefine onde moram a Daisy e a mãe, são de terra batida. Mas a sua reparação foi uma das coisas que as populações locais optaram fazer ao abrigo de um projeto conhecido pelo seu acrónimo em Português, PDDC, ou Projeto de Desenvolvimento Dirigido pela Comunidade Rural na Guiné-Bissau, que colabora com as comunidades com vista a reconstruir as infraestruturas, em função das suas necessidades.

“Tomam decisões democráticas”, diz Alfa Djalo, o gestor do projeto. “As comunidades, com até mil habitantes cada, têm um orçamento de 65 milhões de francos CFA para decidir sobre o que consideram importante reconstruir. Podem escolher uma escola, uma estrada, uma nascente ou até mesmo um campo de arroz”.

E o resultado é que as mulheres têm mais acesso a fontes de água potável, bem como a estradas que as ligam aos mercados, o que as ajuda a vender melhor os seus produtos a um preço mais alto. As doenças relacionadas com a água baixaram consideravelmente. E as comunidades cooperam e cuidam bem de toda as novas infraestruturas.

Vender no Mercado

A história continua com o impacto que as estradas têm no pequeno comércio: Enquanto Zanda espera por uma boleia para uma viagem de 18Km até ao Mercado do Caracol para vender mangas apanhadas das árvores da sua família, ela recorda os tempos em que levava só metade do que hoje transporta nas suas mãos. Atualmente, ela faz até 8 mil francos CFA por dia, mais do dobro daquilo que antes conseguia. Isto vai permitir que ela possa pagar a escola e vestuário dos filhos e comprar as colchas usadas localmente durante cerimónias tradicionais.   

Djonsinho Ca também recorda como era difícil o acesso à esta parte do país antes da estrada ter sido reparada, mesmo que se tivesse um veículo. “Apenas os camiões de 20 toneladas podiam chegar ao lugar onde estamos hoje” conta-me ele em Pefine de Areia, a uns escassos 25 km de Bissau. “Esta estrada estava cheia de buracos e ficava pior durante a estação das chuvas, altura em que as emergências médicas punham em perigo as nossas vidas”.

"Dantes, nós não podíamos vender as nossas mangas e as castanhas de caju”, acrescenta, “mas hoje em dia, veículos vêm comprar-nos caju a bons preços ”. Está contente por ter a estrada mas, a próxima prioridade é um centro de saúde: “Temos espaço que a Igreja Católica nos disponibilizou, mas ainda não temos pessoal nem equipamento”.

 

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As escolas estão tão lotadas que operam em três turnos diários.
Alfa Umaru Jalo / Banco Mundial

 


Pagar a escola

E a história termina com o esforço que os pais e professores aplicam nas escolas das suas crianças: Em Bissalanca, nas proximidades do aeroporto internacional, a cerca de 13 km do centro de Bissau, a comunidade escolheu construir uma escola com o orçamento que lhes cabia do PDDC, que recebeu financiamento do Grupo Banco Mundial nos últimos sete anos.

Foram reabilitadas cinco das suas salas de aula e construído um novo pavilhão com três salas novas, mais um escritório da administração, instalações sanitárias e um refeitório.  

A Escola de Bissalanca tem 617 alunos (352 rapazes e 265 raparigas). “Éramos uma escola primária,” conta Augostinho Biague, o diretor da escola, “mas com as novas salas de aula, conseguimos chegar a escola secundária e, agora, temos aulas em três horários diferentes, do primeiro ano até ao décimo primeiro ano”.

Os alunos são provenientes de 12 aldeias, que se situam num raio de 8 km. A escola está superlotada, pelo que eles têm aulas em três turnos, distribuídos da seguinte forma: das 7:00 às 11:00 horas; das 11:00 às 15:00 horas e das 15:00 às 20:00 horas, todos os dias de aulas.

“Estamos a mobilizar recursos para mais três salas de aula para que as nossas crianças possam ser divididas em dois turnos, em vez de três, ficando os mais novos na parte da manhã e os alunos do secundário na parte da tarde”, diz Emilia Sá da Associação de Pais.

De novo em casa

Desta forma, a Associação de Pais pretende alargar o tempo gasto a ensinar cada uma das crianças, porque as crianças que moram longe da escola não conseguem chegar à escola a horas pela manhã e não existe eletricidade para que a escola possa funcionar depois das 19 horas.

Para prosseguir os seus estudos, as raparigas deparam-se também com outros obstáculos. “Nós temos pouco ou mesmo nenhum tempo para estudar, porque precisamos de fazer as tarefas domésticas”, diz Esteni Cá dela e das suas amigas. Com 21 anos, está no 7º ano, onde poderia ter chegado com 12 ou 13 anos noutro lugar.  

“Mas nós vamos à escola todos os dias e tentamos ser bem-sucedidas”, acrescenta. No seu percurso escolar, as raparigas têm uma taxa de insucesso superior e, como Esteni, tendem a ser mais velhas do que os rapazes.

PDDC, que começou a financiar projetos escolhidos pelas comunidades em 2010, conseguiu realizar 92% do trabalho planeado com um orçamento que, mais recentemente, se cifrou em USD 13,5 milhões. Atuou em todas as regiões da Guiné-Bissau, à exceção de uma, Bolama Bijagós, composta por 83 ilhas que permanecem fora do alcance do projeto, o que em parte se deve às dificultadas para encontrar barcos suficientemente grandes para transportar o equipamento pesado de construção, que é necessário para reparar as infraestruturas.



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