REPORTAGEM

O atual ritmo de pesca é uma ameaça para a saúde dos oceanos

3 de fevereiro de 2014


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Um pescador no porto da cidade de Arica (Chile).  

F. TRUEBA (EFE)

DESTAQUES DO ARTIGO
  • Um terço de pesca marinha está superexplorada ou esgotada, mas limites pesqueiros contribuem para reduzir os excessos
  • O comércio internacional de peixe movimenta em torno de US$ 102 bilhões ao ano
  • Peru, Chile, México e Brasil implementaram medidas para melhorar a situação atual

A recente sentença de Haia sobre a disputa marítima entre Peru e Chile não só resolve uma desavença de dois gigantes da pesca mundial, mas também dá seu grão de areia para contribuir com a saúde dos oceanos.

A razão? Quanto mais claros estão os limites pesqueiros dos países, menor é a superexploração dos oceanos, segundo os especialistas.

"O palco ideal em casos onde as fronteiras dos mares são difusas, é que existam acordos conjuntos para explorar a área de forma sustentável", diz Xavier Vincent, especialista em oceanos do Banco Mundial.

Segundo um estudo da instituição, um terço de pesca oceânica do mundo está superexplorada ou esgotada, e estima-se que a capacidade de pesca seja 2,5 vezes maior que os níveis sustentáveis de captura. Isso leva a oceanos a cada vez mais deteriorados e a consequências econômicas e ecológicas irreversíveis.

A pesca é uma questão de vida ou morte econômica tanto para os produtores como os consumidores.

Hoje, o comércio internacional de peixe movimenta em torno de US$ 102 bilhões ao ano (R$ 245 bilhões), e o setor dá emprego a mais de 35 milhões de pessoas em nível mundial (2 milhões delas vivem na América Latina). E ainda mais importante: nada menos que 1 bilhão de pessoas dependem dos peixes como fonte principal de proteínas.

À superexploração pesqueira se somam desafios como a mudança climática e os crescentes níveis de contaminação dos mares do mundo, que proveem essencialmente da atividade do homem: o lixo e a poluição dos centros urbanos, nutrientes agrícolas não tratados e plástico.

Um dado que ilustra a escassa proteção que o homem está dando aos oceanos é que, apesar de eles cobrirem 71% do planeta, só 2% estão protegidos. A superfície terrestre, por sua vez, tem 12% de áreas protegidas.


" Se você estiver pescando acima da capacidade dos mares, os peixes não têm oportunidade de se reproduzir e isso diminui a capacidade dos oceanos para proporcionar níveis ótimos de pesca.  "

John Virdin

Especialista em gerenciamento de recursos naturais

Vários países pesqueiros da região – Peru, Chile, México e Brasil – implementaram medidas para melhorar a situação atual, que incluem o reforço das instituições que regulam os sistemas comerciais e a definição das fronteiras que provocam a sangria do patrimônio marinho. Medidas adicionais incluem proibições, cotas globais ou individuais, impostos ou incentivos econômicos para os pescadores.

E, a nível global, em 2012 criou-se a Aliança Mundial a favor dos Oceanos, para proteger a flora e fauna marinha, e promover a pesca sustentável.

Segundo o grupo, que inclui líderes governamentais, empresariais e acadêmicos, as propostas para preservar a saúde dos oceanos “que não tomem em conta de maneira integral os aspectos sociais, políticos, econômicos e ecológicos do problema estarão destinadas ao fracasso”.

O custo da superexploração

O Peru é o segundo país que mais pesca em todo o mundo (mais de 8 milhões de toneladas em 2011), atrás da China (quase 16 milhões de toneladas). O Chile encontra-se em nono lugar (mais de 3 milhões de toneladas em 2011) e o México em 16º (1,5 milhão de toneladas), segundo a FAO.

Essas cifras evidenciam que a América Latina é uma das regiões mais ativas quanto à captura de peixes, e, portanto, uma das mais interessadas em manter seus mares saudáveis e garantir assim o sustento de milhões de pessoas.

"Se você estiver pescando acima da capacidade dos mares, os peixes não têm oportunidade de se reproduzir e isso diminui a capacidade dos oceanos de proporcionar níveis ótimos de pesca. Paralelamente, os pescadores devem trabalhar mais para conseguir a mesma quantidade de peixes, e isso incrementa o custo de exploração", explica John Virdin, especialista em gerenciamento de recursos naturais.


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