REPORTAGEM

América Latina recorre à tecnologia para controlar desastres naturais

29 de janeiro de 2014


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A Costa Verde, em Lima (Peru).

Banco Mundial

DESTAQUES DO ARTIGO
  • Mais de meio milhão de latino-americanos foram afetados por inundações entre janeiro e março do ano passado

As praias de Lima, no Peru, ilustram - talvez como nenhuma outra - a convivência diária dos latino-americanos com a constante ameaça de uma catástrofe natural.

Na Costa Verde, chamam a atenção os surfistas, pegando ondas com suas roupas térmicas durante todo o ano, e também os avisos em que se lê "Zona de Evacuação de Tsunamis", em uma área que se estende por vários quilômetros.

Lima, como muitas outras cidades latino-americanas, está localizada em uma zona exposta a ameaças naturais que têm impacto na segurança e qualidade de vida de seus habitantes. Mas não é fácil, para uma cidade de 9 milhões de moradores, se preparar para enfrentar os efeitos devastadores de terremotos e tsunamis.

Entre janeiro e março do ano passado, mais de meio milhão de pessoas na América Latina e no Caribe foram afetadas por desastres naturais, a grande maioria devido a mudanças intensas no regime de chuvas anuais, segundo a ONU. De acordo com estimativas do Banco Mundial, as consequências dos fenômenos naturais representam um custo para a região de aproximadamente R$ 5 bilhões anuais.

No entanto, é possível que esses eventos não se transformem em desastres. O uso de tecnologia e uma estratégia coordenada para reduzir o risco com antecipação e responder rapidamente a um fenômeno natural podem salvar muitas vidas e minimizar perdas econômicas.

É algo que sabe bem Eldrena St. Luce, nativa de Castries, na ilha de Santa Lúcia. A cada ano, a temporada de chuvas traz o risco de deslizamentos de terra. Hoje, uma nova estratégia comunitária para os moradores sobre os riscos de desastres e a instalação de sistemas de drenagem das águas pluviais reduziram o número de deslizamentos nos inclinados morros que rodeiam a capital.

"(Durante o furacão Tomas) o nível de água era alto e abundante como eu nunca havia visto. A instalação dos esgotos foi feita no momento certo, justamente antes da tormenta, evitando os deslizamentos de terra que sempre aconteciam antes", contou Eldrena.


" Na América Latina, é necessário integrar critérios de redução de risco nos planos de desenvolvimento de setores críticos como educação, saúde, transporte, energia, água e saneamento básico "

Fernando Ramirez Cortes

Especialista em gestão de risco de desastres no Banco Mundial

O que é a gestão de risco de desastres?

Hoje em dia, mais de 80% dos latino-americanos vivem em zonas urbanas e, segundo os especialistas, os desastres estão associados, em muitas ocasiões, com a forma como as comunidades ocupam e aproveitam os espaços. A localização e construção inadequada de infraestruturas, a ausência de planejamento para o crescimento de cidades, entre outras deficiências de desenvolvimento, podem ser colocadas como algumas das causas.

A gestão de risco de desastres envolve um conjunto muito amplo de ações, tais como elaboração de mapas de riscos, sistemas de alerta, construções de estruturas de proteção, educação comunitária, resposta a emergências, entre outras.

O conceito de gestão de risco de desastre começou a ser entendido e incorporado pelos governos na década de 90 e, apesar de alguns avanços, a América Latina ainda enfrenta um desafio muito grande para reduzir efetivamente a vulnerabilidade de sua população, infraestrutura e economia.

Respostas latino-americanas

O risco sísmico na costa do Pacífico e de furacões na América Central e Caribe são as ameaças naturais que deixam exposta a maior parte da população da região.

"Como na maioria dos países em desenvolvimento, na América Latina é necessário prioritariamente aprofundar e fortalecer as políticas de ordenamento territorial e ambiental, gerar e compartilhar sistematicamente informação de risco de desastre e integrar critérios de redução de risco nos planos de desenvolvimento de setores críticos como educação, saúde, transporte, energia e água e saneamento básico", afirma Fernando Ramirez Cortes, especialista em risco de desastres do Banco Mundial.

Alguns avanços foram registrados na região, como, por exemplo, a criação em 2008 da plataforma de riscos de desastres CAPRA, que utiliza tecnologia de ponta para avaliar as probabilidades de riscos múltiplos e gerar informação preventiva nas áreas mais vulneráveis ao impacto de um desastre. É uma tecnologia de "código aberto" que foi desenvolvida por especialistas regionais.

O Panamá é um dos primeiros e principais beneficiados desta plataforma. A cidade de David é a mais importante do oeste do Panamá e um destino turístico bastante frequentado. Mas também muito vulnerável a desastres naturais. O CAPRA ajudou a avaliar o risco sísmico em edifícios públicos e moradias, identificar as estruturas mais propensas a serem danificadas durante um terremoto e que possam precisar, por exemplo, de programas de reforço estrutural.

A iniciativa, que nasceu para cobrir as necessidades de enfrentar desastres na América Central, agora se estendeu a Peru, Colômbia e Chile, países que estão no chamado círculo de fogo do Pacífico, uma das zonas sísmicas mais ativas do mundo.

Na Costa Rica, uma prioridade é a manutenção dos 3.000 quilômetros de dutos dos sistema de água e esgoto da capital San José em caso de terremoto. O programa CAPRA apoiou a avaliação do risco sísmico dessa infraestrutura e capacitou engenheiros locais para o uso do software.

Os colombianos que vivem nas cidades são os mais expostos e vulneráveis aos desastres naturais. Para enfrentar esse desafio, o Banco Mundial ajuda a Colômbia com investigações, estudos, serviços financeiros, incluindo financiamentos e assessorias para fortalecer as instituições responsáveis pelo risco de desastres. Desde 2010, o país conta com um fundo de 365 milhões de reais (150 milhões de dólares) para que haja recursos de forma imediata quando um desastre alcance nível nacional.

E na Bolívia, que desde 2006 declarou sete vezes estado de emergência nacional, devido aos efeitos de desastres como os fenômenos El Niño e La Niña, 225 projetos de reabilitação e reconstrução de vias, edificação de pontes, defesa de rios, obras hidráulicas, sistemas de provisão de água potável, sistemas de risco e reforço de infraestrutura educativa e de saúde beneficiarão a mais de 400 mil pessoas em localidades vulneráveis.


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