REPORTAGEM

Paulistanos apostam em bicicletas e outras alternativas para fugir dos piores engarrafamentos da cidade

1 de agosto de 2013

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O pesquisador André Celestino desistiu de comprar uma moto quando a empresa onde trabalha passou a custear 100% do vale-transporte.

Mariana Ceratti / Banco Mundial.

DESTAQUES DO ARTIGO
  • Projeto piloto com 17 empresas busca melhorar o trânsito de uma das avenidas mais congestionadas de São Paulo.
  • A ideia é incentivar patrões e empregados a trabalhar em horários flexíveis (ou de casa), bem como usar a bicicleta, o transporte público, as caronas e os ônibus fretados.
  • A iniciativa vai dar origem a um estudo com recomendações de políticas públicas de transporte para a maior cidade do Brasil.

Duas vezes por semana, a analista de comércio exterior Amanda Oliveira, 33 anos, troca o carro pela bicicleta. Antes de pedalar 7km de casa até o escritório, veste-se com roupas luminosas e se prepara para encarar a intolerância que muitos motoristas ainda sentem pelos ciclistas.

“Tem gente que desrespeita, xinga, mas o esforço vale a pena. Além de ser um carro a menos na rua, o exercício me proporciona cuidado com a saúde, contato com a cidade e com o meio ambiente”, analisa. Amanda trabalha em uma das regiões mais congestionadas de São Paulo: a da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, no Brooklyn, zona sul da cidade.

Dentre os carros que circulam nos horários de pico, 53% transportam só uma pessoa – no resto da cidade, a média é de 31% –, segundo a Pesquisa Origem/Destino (2007), do Metrô de São Paulo. O resultado se sente na hora de deixar as garagens dos prédios de escritórios: pode-se levar até 30 minutos para sair.

Para ajudar a desafogar o trânsito no local, o Banco Mundial criou uma parceria com 17 empresas, que somam 1.500 funcionários. Todas estão localizadas no Centro Empresarial Nações Unidas (CENU) e no World Trade Center (WTC).

O projeto piloto ajuda os trabalhadores a descobrir alternativas ao carro. Entre elas, bicicleta, caronas, trem e ônibus fretados. Ainda incentiva as empresas a oferecer horários flexíveis ou teletrabalho (home office).

Cansados do trânsito

“Não foi difícil convencer as empresas a participar do projeto, porque todo mundo está cansado do trânsito paulistano”, explica Andréa Leal, especialista do Banco Mundial na área de políticas públicas.

“O Banco hoje investe mais de R$ 2 bilhões nos trens e metrôs de São Paulo, mas os projetos custam caro e levam tempo para serem concluídos. Por isso, é importante também mexer na demanda por transporte”, acrescenta.  

Além de envolver as empresas, o projeto fechou parcerias com a Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt), o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros por Fretamento (Transfretur), a Caronetas (site que organiza caronas entre pessoas que trabalhem em lugares próximos), a Zazcar (empresa de aluguel de carros por hora ou dia) e a ONG Bike Anjo.

Com a ONG – cujos voluntários mostram como é possível adotar a bicicleta como meio de transporte cotidiano – por exemplo, foi feito um workshop e um passeio ciclístico. “Foi a partir do workshop que me animei a vir de bicicleta para o trabalho. Quero que os colegas saibam como isso é viável. O problema ainda é a falta de vestiários e chuveiros no prédio”, diz Amanda.


" O Banco Mundial investe mais de R$ 2 bilhões nos trens e metrôs de São Paulo, mas os projetos custam caro e levam tempo para serem concluídos. Por isso, é importante também mexer na demanda por transporte "

Andréa Leal

Especialista em políticas públicas

Em boa hora

Também incentivado pelo projeto, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) parou de descontar dos funcionários os 6% relativos ao vale-transporte. Quem quiser ir trabalhar de ônibus, trem ou metrô tem a passagem totalmente paga pela empresa.

“Essa decisão veio bem na semana em eu que ia comprar uma moto”, lembra o pesquisador André Celestino, 29 anos. “Agora vou de metrô porque tenho o benefício financeiro e estou usando um meio de transporte que não prejudica o meio ambiente.”

Em breve, o projeto vai dar origem a um estudo com lições aprendidas e recomendações de políticas públicas para São Paulo, a ser divulgado no fim de agosto.

“Fora isso, se o projeto piloto der certo, outras empresas podem vir a participar também, gerando um impacto muito maior”, comenta Andréa Leal. Só nos dois complexos empresariais atendidos pela iniciativa, há 80 empresas, com 6 mil funcionários.


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